Explicando as reações adversas de medicamentos (RAM).
- siteconscienciaufr
- 12 de mai.
- 6 min de leitura
O que são reações adversas?
São reações indesejadas que podem surgir mesmo quando um medicamento é usado
corretamente. Eles não fazem parte do benefício esperado e podem prejudicar à saúde. Podem aparecer após uma única dose ou com o uso contínuo e quando medicamentos interagem entre si.

Tipos de reações indesejadas de medicamentos
• Superdosagem relativa: acontece quando o medicamento é usado na dose certa, mas
mesmo assim ele se acumula no corpo em níveis mais altos do que o normal. Isso pode
acontecer, por exemplo, em pessoas com problemas nos rins, que eliminam os medicamentos mais lentamente. Um caso comum é o de pacientes com insuficiência renal que usam o antibiótico amicacina e têm mais risco de desenvolver surdez.
• Efeitos secundários: são reações que acontecem junto com o efeito principal do
medicamento. Por exemplo, a tetraciclina, que é um antibiótico usado para combater bactérias, pode causar problemas se for usada em crianças. Ela pode se acumular nos dentes, manchando o esmalte, e também nos ossos, atrapalhando o crescimento.
• Idiossincrasia: é uma reação diferente ou inesperada a um medicamento, por causa das características únicas do organismo de uma pessoa. Por exemplo, um medicamento que funciona bem para a maioria das pessoas pode causar uma reação grave, como anemia, em algumas pessoas que usam um antimalárico chamado primaquina.
• Hipersensibilidade: é quando o organismo já teve contato anterior com um medicamento e, ao usá-lo novamente, reage de forma exagerada. Um exemplo é a anafilaxia, uma reação alérgica grave que pode acontecer de forma rápida e sem relação com a dose do medicamento. Ela pode ser perigosa e até fatal, por causa da liberação de substâncias como a histamina no corpo.
• Tolerância: é quando o organismo vai se acostumando com um medicamento que é tomado com frequência na mesma dose. Com o tempo, ele passa a fazer menos efeito, e é preciso aumentar a dose para conseguir o mesmo resultado. Um exemplo disso acontece com os barbitúricos, que com o uso contínuo podem perder sua eficácia no controle de convulsões.
Qual é a diferença de reação adversa e efeito colateral?
A diferença entre reação adversa e efeito colateral está principalmente no grau de
previsibilidade e na relação com o uso adequado do medicamento.
Efeito colateral: é uma reação esperada, conhecida e previsível, apesar de indesejada.
Ela ocorre junto com o efeito terapêutico do medicamento. Normalmente, já é conhecida pelos profissionais de saúde. Geralmente, não impede o uso do medicamento, a menos que cause desconforto intenso. Exemplos:
● Sonolência: efeito colateral geralmente observado com o uso de anti-alérgico (como
difenidramina ou dimenidrato ou Dramin ® ) sendo um efeito colateral conhecido e
esperado.
● Prisão de ventre: efeito colateral comum causado pela morfina (usada para dor
intensa)
● Diarréia: Os antibióticos, que atuam sobre as bactérias e causam como efeito
colateral, alterações na flora bacteriana intestinal, resultando em diarréia.
● Náuseas: O medicamento Tramal (analgésico) geralmente causa esse efeito colateral.


Reação adversa: é uma reação indesejada, nociva, inesperada ou prejudicial que
ocorre com o uso normal do medicamento, mesmo na dose correta, podendo ser mais grave e às vezes, levar à interrupção do tratamento. Exemplos:
● Alergia com manchas na pele ou dificuldade para respirar: causada pela
amoxicilina (antibiótico).
● Sangramento gastrointestinal: pode ser causado pelo Ibuprofeno em
algumas pessoas, mesmo nas doses recomendadas.
● Alergia grave (anafilaxia): com inchaço, falta de ar e queda da pressão
arterial causado pela Penicilina (antibiótico) em algumas pessoas sensíveis a
este antibiótico.
● Sangramentos no estômago ou intestino: causado pelo AAS (ácido
acetilsalicílico / Aspirina), especialmente em pessoas com úlcera.
● Malformações congênitas: reação adversa causada pela Isotretinoína (para
acne grave) se usado na gravidez.
● Dores musculares e, em casos raros, rabdomiólise (quebra muscular grave):
reação adversa causada pelas Estatinas (ex: sinvastatina, para colesterol).
Como as reações adversas são classificadas?
1. Quanto ao mecanismo de ação (Rawlins e Thompson, 1991):
● Tipo A: Mais comum e geralmente leve. Relacionado à ação do medicamento. Pode
melhorar com a redução da dose. Por exemplo, hipoglicemia com os antidiabéticos,
sonolência produzida por ansiolíticos.
● Tipo B: Raro e mais grave. É imprevisível e muitas vezes exige suspensão imediata. Os
efeitos são anormais e não dependem da dose do medicamento. As possíveis causas
são alterações na formulação farmacêutica, como a decomposição dos princípios ativos
ou outros componentes da fórmula.
● Tipo C: Surge com uso prolongado, de forma lenta e associada a tratamentos
contínuos.
2. Classificação quanto à causalidade (segundo a Organização Mundial da
Saúde):
● Definida: Ligação clara entre o medicamento e a reação. Melhora com a suspensão do
uso.
● Provável: A melhora com a suspensão é clara, mas não é necessário realizar nova
exposição para confirmar a relação.
● Possível: A reação aparece após o uso da substância, mas pode haver outras causas,
além do medicamento. Nesse caso, não é possível afirmar com certeza se a substância
foi a responsável
● Não acessível / não classificável: faltam dados ou há informações contraditórias,
tornando impossível determinar se a substância causou ou não a reação.
3. Classificação quanto à severidade (segundo a OMS)
● Leve: sem risco significativo. Não exige suspensão, tratamento específico ou antídotos.
● Moderada: Pode exigir ajustes no tratamento, mas não há necessidade de suspender a medicação. Mas pode necessitar de hospitalização prolongada e de tratamento
especifico.
● Grave: Representa risco à vida e exige a suspensão imediata, com tratamento
específico. Geralmente há necessidade de hospitalização ou prolongamento do tempo
de internação.
● Fatal: a reação leva à morte ou contribui para ela
Principais fatores que influenciam as reações adversas
● Fatores genéticos: Algumas pessoas metabolizam medicamentos de forma diferente,
o que pode causar efeitos tóxicos, mesmo com doses normais.
● Doenças preexistentes: Problemas no fígado, rins, coração ou intestino podem
interferir na ação dos medicamentos.
● Polifarmácia: Uso de vários medicamentos ao mesmo tempo aumenta o risco de
interações perigosas.
● Idade:
● Crianças: Metabolismo imaturo requer atenção especial à dose.
● Idosos: Funções do organismo alteradas com a idade (como a função renal) e
uso de múltiplos medicamentos aumentam os riscos.
● Gravidez e amamentação: Muitos medicamentos podem atravessar a placenta ou
estar no leite materno, afetando o bebê.
● Consumo de álcool: Pode potencializar efeitos colaterais e interferir no
metabolismo das substâncias.

Por que é importante entender isso?
Conhecer as reações adversas é fundamental para garantir a segurança do paciente.
Isso permite:
● Identificar sintomas inesperados e buscar ajuda médica a tempo.
● Usar medicamentos com responsabilidade, evitando abusos, interrupções
inadequadas e erros de dosagem.
● Prevenir interações perigosas entre diferentes medicamentos.
● Adaptar o tratamento de forma personalizada, (considerando idade, condições
de saúde e histórico familiar).
● Fortalecer a farmacovigilância, o sistema que monitora a segurança dos
medicamentos e protege a saúde pública.

Importância da farmacovigilância
A farmacovigilância monitora, avalia e previne reações adversas a medicamentos,
promovendo seu uso seguro. Esse acompanhamento inclui a coleta de informações sobre efeitos inesperados, como alergias ou outros sintomas graves, para tomar medidas corretivas,como ajustes nas doses ou até a retirada do medicamento do mercado, quando necessário.
No Brasil, a RDC nº 04/09 pela Anvisa estabelece que empresas detentoras de
registro de medicamentos devem:
● notificar eventos adversos
● criar sistemas de monitoramento contínuo. Esse controle permite:
o detectar reações precoces
o avaliar riscos e benefícios continuamente
o atualizar orientações de uso ou retirar medicamentos o produto do
mercado, se necessário.
Assim, a farmacovigilância protege a saúde pública e aperfeiçoa os tratamentos
médicos.
O que fazer diante de uma reação adversa?
Se sentir qualquer sintoma inesperado, mesmo que leve, após usar um medicamento:
1. Comunique-se com um profissional de saúde.
2. Notifique o caso à ANVISA pelo sistema eletrônico VigiMed. (https://vigiflow-
A notificação ajuda a:
● Atualizar o perfil de segurança dos medicamentos.
● Evitar riscos a outras pessoas.
● Melhorar os tratamentos disponiveis
Notificar é um ato de cidadania e de cuidado coletivo.

Conclusão:
Compreender e reconhecer os reações adversas é fundamental para promover o uso
mais seguro, responsável e eficaz dos medicamentos. Isso permite:
● Identificar riscos precocemente
● Evitar complicações e a proteger a saúde de forma preventiva.
● Promover tratamentos mais adequados e individualizados.
A participação dos cidadãos por meio de notificações ao VIGIMED fortalece a
Farmacovigilância e contribui para a segurança de toda a sociedade.
Referências:
Reações Adversas a Medicamentos (RAM) e Prescrição em Cascata (PC) — Universidade
Federal da Paraíba - UFPB Centro de Informação sobre Medicamentos. Disponível em:
prescricao-em-cascat>.
Adverse event vs. side effect. Disponível em: <https://healthjournalism.org/glossary-
terms/adverse-event-vs-side-effect/>.
SANTANA, Saymon Pereira Dias; GONÇALVES, Karin Anne Margaridi. Reações adversas a
medicamentos: um problema de saúde pública/Adverse drug reactions: a public health problem.
Brazilian Journal of Health Review, v. 4, n. 6, p. 28899-28915, 2021.
SMITH, D. E. Fatores de risco para reações adversas medicamentosas. Disponível em:
medicamentosas/fatores-de-risco-para-rea%C3%A7%C3%B5es-adversas-medicamentosas>.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Boletim de farmacovigilância nº 02.
Disponível em:
a/boletins-de-farmacovigilancia/boletim-de-farmacovigilancia-no-02.pdf. Acesso em: 07 mai.
2025.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Como notificar eventos adversos a
medicamentos e vacinas. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-
anvisa/2021/como-notificar-eventos-adversos-a-medicamentos-e-vacinas. Acesso em: 07 mai.
2025.
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