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Explicando as reações adversas de medicamentos (RAM).

O que são reações adversas?


São reações indesejadas que podem surgir mesmo quando um medicamento é usado

corretamente. Eles não fazem parte do benefício esperado e podem prejudicar à saúde. Podem aparecer após uma única dose ou com o uso contínuo e quando medicamentos interagem entre si.

Tipos de reações indesejadas de medicamentos


Superdosagem relativa: acontece quando o medicamento é usado na dose certa, mas

mesmo assim ele se acumula no corpo em níveis mais altos do que o normal. Isso pode

acontecer, por exemplo, em pessoas com problemas nos rins, que eliminam os medicamentos mais lentamente. Um caso comum é o de pacientes com insuficiência renal que usam o antibiótico amicacina e têm mais risco de desenvolver surdez.


Efeitos secundários: são reações que acontecem junto com o efeito principal do

medicamento. Por exemplo, a tetraciclina, que é um antibiótico usado para combater bactérias, pode causar problemas se for usada em crianças. Ela pode se acumular nos dentes, manchando o esmalte, e também nos ossos, atrapalhando o crescimento.


Idiossincrasia: é uma reação diferente ou inesperada a um medicamento, por causa das características únicas do organismo de uma pessoa. Por exemplo, um medicamento que funciona bem para a maioria das pessoas pode causar uma reação grave, como anemia, em algumas pessoas que usam um antimalárico chamado primaquina.


Hipersensibilidade: é quando o organismo já teve contato anterior com um medicamento e, ao usá-lo novamente, reage de forma exagerada. Um exemplo é a anafilaxia, uma reação alérgica grave que pode acontecer de forma rápida e sem relação com a dose do medicamento. Ela pode ser perigosa e até fatal, por causa da liberação de substâncias como a histamina no corpo.


Tolerância: é quando o organismo vai se acostumando com um medicamento que é tomado com frequência na mesma dose. Com o tempo, ele passa a fazer menos efeito, e é preciso aumentar a dose para conseguir o mesmo resultado. Um exemplo disso acontece com os barbitúricos, que com o uso contínuo podem perder sua eficácia no controle de convulsões.


Qual é a diferença de reação adversa e efeito colateral?


A diferença entre reação adversa e efeito colateral está principalmente no grau de

previsibilidade e na relação com o uso adequado do medicamento.


Efeito colateral: é uma reação esperada, conhecida e previsível, apesar de indesejada.

Ela ocorre junto com o efeito terapêutico do medicamento. Normalmente, já é conhecida pelos profissionais de saúde. Geralmente, não impede o uso do medicamento, a menos que cause desconforto intenso. Exemplos:


Sonolência: efeito colateral geralmente observado com o uso de anti-alérgico (como

difenidramina ou dimenidrato ou Dramin ® ) sendo um efeito colateral conhecido e

esperado.

Prisão de ventre: efeito colateral comum causado pela morfina (usada para dor

intensa)

Diarréia: Os antibióticos, que atuam sobre as bactérias e causam como efeito

colateral, alterações na flora bacteriana intestinal, resultando em diarréia.

Náuseas: O medicamento Tramal (analgésico) geralmente causa esse efeito colateral.




Reação adversa: é uma reação indesejada, nociva, inesperada ou prejudicial que

ocorre com o uso normal do medicamento, mesmo na dose correta, podendo ser mais grave e às vezes, levar à interrupção do tratamento. Exemplos:


● Alergia com manchas na pele ou dificuldade para respirar: causada pela

amoxicilina (antibiótico).

Sangramento gastrointestinal: pode ser causado pelo Ibuprofeno em

algumas pessoas, mesmo nas doses recomendadas.

Alergia grave (anafilaxia): com inchaço, falta de ar e queda da pressão

arterial causado pela Penicilina (antibiótico) em algumas pessoas sensíveis a

este antibiótico.

Sangramentos no estômago ou intestino: causado pelo AAS (ácido

acetilsalicílico / Aspirina), especialmente em pessoas com úlcera.

Malformações congênitas: reação adversa causada pela Isotretinoína (para

acne grave) se usado na gravidez.

Dores musculares e, em casos raros, rabdomiólise (quebra muscular grave):

reação adversa causada pelas Estatinas (ex: sinvastatina, para colesterol).


Como as reações adversas são classificadas?


1. Quanto ao mecanismo de ação (Rawlins e Thompson, 1991):

Tipo A: Mais comum e geralmente leve. Relacionado à ação do medicamento. Pode

melhorar com a redução da dose. Por exemplo, hipoglicemia com os antidiabéticos,

sonolência produzida por ansiolíticos.

Tipo B: Raro e mais grave. É imprevisível e muitas vezes exige suspensão imediata. Os

efeitos são anormais e não dependem da dose do medicamento. As possíveis causas

são alterações na formulação farmacêutica, como a decomposição dos princípios ativos

ou outros componentes da fórmula.

Tipo C: Surge com uso prolongado, de forma lenta e associada a tratamentos

contínuos.


2. Classificação quanto à causalidade (segundo a Organização Mundial da

Saúde):


Definida: Ligação clara entre o medicamento e a reação. Melhora com a suspensão do

uso.


Provável: A melhora com a suspensão é clara, mas não é necessário realizar nova

exposição para confirmar a relação.


Possível: A reação aparece após o uso da substância, mas pode haver outras causas,

além do medicamento. Nesse caso, não é possível afirmar com certeza se a substância

foi a responsável


Não acessível / não classificável: faltam dados ou há informações contraditórias,

tornando impossível determinar se a substância causou ou não a reação.


3. Classificação quanto à severidade (segundo a OMS)


Leve: sem risco significativo. Não exige suspensão, tratamento específico ou antídotos.

Moderada: Pode exigir ajustes no tratamento, mas não há necessidade de suspender a medicação. Mas pode necessitar de hospitalização prolongada e de tratamento

especifico.

Grave: Representa risco à vida e exige a suspensão imediata, com tratamento

específico. Geralmente há necessidade de hospitalização ou prolongamento do tempo

de internação.

Fatal: a reação leva à morte ou contribui para ela


Principais fatores que influenciam as reações adversas


Fatores genéticos: Algumas pessoas metabolizam medicamentos de forma diferente,

o que pode causar efeitos tóxicos, mesmo com doses normais.

Doenças preexistentes: Problemas no fígado, rins, coração ou intestino podem

interferir na ação dos medicamentos.

Polifarmácia: Uso de vários medicamentos ao mesmo tempo aumenta o risco de

interações perigosas.

Idade:

Crianças: Metabolismo imaturo requer atenção especial à dose.

Idosos: Funções do organismo alteradas com a idade (como a função renal) e

uso de múltiplos medicamentos aumentam os riscos.

Gravidez e amamentação: Muitos medicamentos podem atravessar a placenta ou

estar no leite materno, afetando o bebê.

Consumo de álcool: Pode potencializar efeitos colaterais e interferir no

metabolismo das substâncias.



Por que é importante entender isso?


Conhecer as reações adversas é fundamental para garantir a segurança do paciente.

Isso permite:


● Identificar sintomas inesperados e buscar ajuda médica a tempo.

● Usar medicamentos com responsabilidade, evitando abusos, interrupções

inadequadas e erros de dosagem.

● Prevenir interações perigosas entre diferentes medicamentos.

● Adaptar o tratamento de forma personalizada, (considerando idade, condições

de saúde e histórico familiar).

● Fortalecer a farmacovigilância, o sistema que monitora a segurança dos

medicamentos e protege a saúde pública.


Importância da farmacovigilância


A farmacovigilância monitora, avalia e previne reações adversas a medicamentos,

promovendo seu uso seguro. Esse acompanhamento inclui a coleta de informações sobre efeitos inesperados, como alergias ou outros sintomas graves, para tomar medidas corretivas,como ajustes nas doses ou até a retirada do medicamento do mercado, quando necessário.


No Brasil, a RDC nº 04/09 pela Anvisa estabelece que empresas detentoras de

registro de medicamentos devem:


● notificar eventos adversos

● criar sistemas de monitoramento contínuo. Esse controle permite:

o detectar reações precoces

o avaliar riscos e benefícios continuamente

o atualizar orientações de uso ou retirar medicamentos o produto do

mercado, se necessário.


Assim, a farmacovigilância protege a saúde pública e aperfeiçoa os tratamentos

médicos.


O que fazer diante de uma reação adversa?


Se sentir qualquer sintoma inesperado, mesmo que leve, após usar um medicamento:

1. Comunique-se com um profissional de saúde.

2. Notifique o caso à ANVISA pelo sistema eletrônico VigiMed. (https://vigiflow-


A notificação ajuda a:

● Atualizar o perfil de segurança dos medicamentos.

● Evitar riscos a outras pessoas.

● Melhorar os tratamentos disponiveis


Notificar é um ato de cidadania e de cuidado coletivo.

Conclusão:


Compreender e reconhecer os reações adversas é fundamental para promover o uso

mais seguro, responsável e eficaz dos medicamentos. Isso permite:


● Identificar riscos precocemente

Evitar complicações e a proteger a saúde de forma preventiva.

● Promover tratamentos mais adequados e individualizados.


A participação dos cidadãos por meio de notificações ao VIGIMED fortalece a

Farmacovigilância e contribui para a segurança de toda a sociedade.


Referências:


Reações Adversas a Medicamentos (RAM) e Prescrição em Cascata (PC) — Universidade

Federal da Paraíba - UFPB Centro de Informação sobre Medicamentos. Disponível em:

prescricao-em-cascat>.

Adverse event vs. side effect. Disponível em: <https://healthjournalism.org/glossary-

terms/adverse-event-vs-side-effect/>.


SANTANA, Saymon Pereira Dias; GONÇALVES, Karin Anne Margaridi. Reações adversas a

medicamentos: um problema de saúde pública/Adverse drug reactions: a public health problem.

Brazilian Journal of Health Review, v. 4, n. 6, p. 28899-28915, 2021.


SMITH, D. E. Fatores de risco para reações adversas medicamentosas. Disponível em:

medicamentosas/fatores-de-risco-para-rea%C3%A7%C3%B5es-adversas-medicamentosas>.


BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Boletim de farmacovigilância nº 02.

Disponível em:

a/boletins-de-farmacovigilancia/boletim-de-farmacovigilancia-no-02.pdf. Acesso em: 07 mai.

2025.


BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Como notificar eventos adversos a

medicamentos e vacinas. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-

anvisa/2021/como-notificar-eventos-adversos-a-medicamentos-e-vacinas. Acesso em: 07 mai.

2025.

 
 
 

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