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TERAPIA CELULAR CAR T

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Atualizado: 16 de mai. de 2022

O QUE É?

A Terapia Celular CAR-T é uma imunoterapia, ou seja, aproveita a capacidade do nosso sistema imunológico (sistema de defesa do nosso corpo) para tratamentos contra tumores líquidos, um certo tipo de Câncer. O termo “célula CAR-T” significa “célula T com receptor de antígeno quimérico ou CAR”, pois esse método utiliza células T (linfócitos do tipo T; figura 1), um tipo de glóbulo branco responsável pela defesa do nosso organismo, modificadas geneticamente. Essas células especializadas T e as B (responsável por produzir anticorpos) compõem nosso sistema imune. Esta Terapia foi desenvolvida graças as pesquisas de James Alisson e Tasuku Honjo, ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina 2018.

Figura 1: Linfócitos T – Créditos: USP Imagens (Wikimedia/National Cancer Institute)

COMO FUNCIONA?

Em uma amostra de sangue retirada do paciente por leucoferese (método onde através de um equipamento se remove as Células T ou Células Brancas do sangue), os linfócitos T extraídos são modificados geneticamente, através da introdução de um vetor (vírus sintético que carrega no DNA a habilidade de reconhecer determinadas substâncias de interesse e desencadear a produção de anticorpos) dentro da Célula. Com isso, os linfócitos T ganham um receptor (uma proteína) a qual consegue reconhecer o alvo terapêutico, por exemplo, o antígeno na superfície da célula cancerígena. Após a modificação genética das célula T, elas são cultivadas em laboratório para aumentar a quantidade (expansão da cultura in vitro), injetadas no paciente e o resultado é uma reação inflamatória. Este quadro inflamatório é um bom sinal, pois demonstra que os linfócitos estão induzindo a liberação de substâncias pró-inflamatórias (citocinas), que ocasionarão na destruição completa das células malignas (figura 2).

Figura 2: Tratamento com células CAR-T – Créditos: FAPESP.

Figura 3: moléculas CAR (azul claro) se ligam às moléculas CD19 em uma célula cancerígena, levando à segregação das vesículas de granzimas (amarelas) que ativam a apoptose (morte celular das células malignas) – Créditos: Institute La Jolla de Imunologia.

PRÊMIO NOBEL DE MEDICINA/FISIOLOGIA 2018

Como já comentado acima, os ganhadores James Alisson e Tasuku Honjo, desenvolveram pesquisas com sucesso, a respeito de duas proteínas produzidas por tumores: CTLA4 e PD1, denominadas de “checkpoints” que paralisam o sistema imune do paciente, pois bloqueiam os linfócitos T (as células mais importantes do sistema imune) as quais atacariam o tumor. Explicando mais claramente, o nosso sistema imune procura e destrói as células mutadas (diferentes geneticamente), mas elas se escondem e se expandem de maneira muito eficiente (como as células cancerígenas, por exemplo) . Por isso, nessas pesquisas, esses cientistas conseguiram retirar o bloqueio e recuperar o poder de ataque dos linfócitos paralisados por essas proteínas tumorais (CTLA4 e PD1) . Através dessas pesquisas, surgiu uma nova terapia contra o câncer (Terapia Celular CAR-T). E, estão desenvolvendo também, um medicamento que interrompe o ataque do tumor, porém este ainda está em estudo. Abaixo temos o mecanismo de ação da Terapia Celular CAR- T (figura 4).

Figura 4: Mecanismo de ação Terapia Celular CAR-T. Créditos: Elsevier. Descrição: 1° quadro mostra a perturbação do eixo HVEM-BTLA no linfoma (câncer) e o 2° quadro demonstra as células CAR-T projetadas para secretar HVEM solúvel para tratamento de linfoma. O HVEM atua como estimulador do sistema imunológico.

DECIFRANDO O CÂNCER

Câncer é um conjunto de mais de 100 doenças caracterizado pelo crescimento e expansão de forma desordenada de células doentes (mutadas) que alcançam tecidos e órgãos, fazendo com que as células saudáveis se tornem doentes também. Isso acontece devido a diversos fatores. Na verdade, estamos constantemente sendo expostos a agentes agressores que podem invadir o nosso DNA, alterando de alguma forma a sua sequência, a qual nosso organismo não consegue consertar (ou seja uma mutação genética), ou então, podemos herdar mutações que nos tornam mais pré-dispostos a desenvolvermos um câncer. Essas células mutadas, geralmente, são muito agressivas, e resistentes ao tratamento como o da quimioterapia. Além disso, há uma gama de tipos diferentes de tumores dependendo do órgão e/ou tecido alcançado. Com a Terapia Celular CAR-T, novas fronteiras vão sendo alcançadas principalmente através das pesquisas científicas em andamento. Atualmente, há estudos para o desenvolvimento de outros vetores que sejam capazes de produzir proteínas marcadoras de tumores sólidos, bem como para a criação de produto que possa ser adotado pelo SUS.

Figura 5: Divisão celular da célula cancerosa – Créditos: Institutos Nacionais de Saúde.

RELATO DE CASOS

Neste presente ano de 2019, ocorreu a aplicação desta terapia no Brasil, mais precisamente no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto- SP. Um paciente portador de linfoma não Hodgkin (tumor que se inicia no sistema linfático), foi tratado por esta nova terapia, sendo a proteína CD-19, o alvo terapêutico. Ele obteve permissão pelo fato de estar no quadro de “uso compassivo”, ou seja, fase terminal (não havia mais opções de tratamento para o caso dele). O resultado foi animador, pois foi curado do câncer que acometia seus linfócitos B. Foi o primeiro paciente da América Latina a ser tratado com a Terapia Celular CAR-T. Em 30 dias, ele já estava quase, completamente em remissão (curado). Assim, com suas próprias células, mas agora reprogramadas, o tratamento deste paciente obteve êxito.

Este procedimento já vem sendo comercializado pelos EUA, contra linfomas e leucemias, e agora foi desenvolvido no Brasil, dentro de um hospital universitário público. A figura 6 resume o procedimento adotado pelos pesquisadores brasileiros.

Figura 6: Evolução do tratamento do paciente.

EFEITOS COLATERAIS

Apesar dos sucessos terapêuticos, esta Terapia Celular CAR-T apresenta riscos de efeitos colaterais, tais como:

  1. Neurotoxicidade (resultando em cefaléia, confusão, ansiedade, tremores..)

  2. Infecções

  3. Hipóxia

  4. Sintomas gripais

  5. Febre

  6. Queda acentuada da Pressão arterial

  7. CRS (Síndrome de Liberação de Citocinas)

Por isso, é essencial a internação do paciente em unidade intensiva de tratamento (UTI), com boas condições hospitalares e laboratoriais, com suporte intensivo.

A IMPLANTAÇÃO NO SUS

Há um projeto com vários parceiros para expandir e baratear esta Terapia, com objetivo de implementação em nosso Sistema Único de Saúde. Através do apoio da USP, Fapesp, CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e o Ministério da Saúde, será possível, que tenhamos um tratamento não só muito promissor, como também remissor e triunfante.

ANIMAÇÃO TERAPIA CELULAR CAR-T

Para complementar, assista os 2 vídeos (em animação) indicados abaixo e que mostram o alcance da Terapia CAR-T frente as células cancerígenas.

  1. “A Look at How CAR-T Cell Therapy Works”


  1. “Linfócitos T CAR contra o câncer | #InstanteBiotec 31”


Por Talita Alves, Graduanda em Farmácia pela UFRJ.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. AMERICAN CANCER SOCIETY – CAR T Cell Therapy To Treat Cancer, 2017. Link:http://www.cancer.org/treatment/treatments-and-side-effects/treatment-types/immunotherapy/car-t-cell1.html – Acesso em: 31/10/19.

  2. BOICE, Michael; SALLOUM, Darin; MOURCIN, Frederic; COGNÉ, Michael; TARTE, Karin; WENDEL, Hans-Guido… – Loss of the HVEM Tumor Suppressor in Lymphoma nas Restoration by Modified CAR-T Cells. CELL, 2016, V. 167, N. 2.

  3. DUARTE – First CAR T Cell Therapy Targeting B Cell, Activating Factor Receptor Eradicates Blood Cancers. NEWS SCIENCES, Califórnia, 2019 – Link: https://www.eurekalert.org/pub_releases/2019-09/coh-fct092019.php

  4. FAPESP – Karina Toledo. Células do próprio Paciente são Usadas em Tratamento contra o Câncer – 2019. Link: https://agência.FAPESP.br/celulas-do-proprio-paciente-sao-usadas-em-tratamento-inovador-contra-o-cancer/31656/ – Acesso em: 31/10/19.

  5. GALILEU – Terapia contra o Câncer ganha o Prêmio Nobel de Medicina 2018 – Link:https://www.google.com/amp/s/revistagalileu.globo.com/amp/Ciencia/noticia/2018/10/terapia-contra-o-cancer-ganha-o-premio-nobel-de-medicina-2018.html. Acesso em: 31/10/19.

  6. Lois Zoppi. Neurological Side Effects of CAR T Cell Therapy Revealed. NEWS SCIENCES, BA, 2019. Link: https://www.news-medical.net/amp/news/20190516/Neurological-Side-Effects-of-CAR-T-Cell-Therapy-Revealed.Aspx

  7. Silvana Salles. JORNAL USP SP – Terapia Inédita na América Latina Devolve Futuro a Paciente com Câncer Terminal, SP, 2019. Link: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/terapia-inedita-na-america-latina-devolve-futuro-a-paciente-com-cancer-terminal/ – Acesso em: 31/10/19.

  8. Yan Zhou, Ping Wen, Mingmei Li, Yaqi Li, Xião – An Li. Construction of Chimeric Antigen Receptor, Modified T Cells Targeting EpCAM and Assessment of Their Anti-tumor Effect on Cancer Cells. PubMed (Spandidos Publications) – Medicina Molecular, 2019.

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