Em emergências por todo o mundo acontecem casos de acidentes em que o paciente chega ao hospital desacordado, sem identificação e desacompanhado. Em muitos casos, é possível que ele tenha perdido muito sangue, logo uma transfusão sanguínea seria necessária.
Para que uma transfusão não seja rejeitada, o sangue a ser transferido tem que ser compatível com o tipo sanguíneo do paciente, sendo do mesmo tipo ou do tipo universal. O doador sanguíneo universal é o tipo O, que pode doar para todos os outros tipos (A, B,AB) entretanto, o tipo O só pode receber sangue do seu tipo.(Figura 1).
Figura 1- Tipos sanguíneos doadores e receptores
Os tipos sanguíneos e os seus anticorpos: Os grupos ou tipos sanguíneos foram descobertos no inicio do século XIX (1900) quando o cientista austríaco Karl Landsteiner se dedicou a comprovar que havia diferenças no sangue de diversos indivíduos. Assim, foi determinado que os tipos sanguíneos fossem diferenciados pela presença de antígenos na superfície das hemácias (Figura 2).Tais antígenos classificam o sangue como A, B, AB ou O.
Figura 2: Tipos de sangue e suas características em relação aos antígenos presentes na superfície das hemácias e os anticorpos contra tipos sanguíneos diferentes.
A rejeição ocorre se por ex., alguém do tipo A recebe uma doação do tipo B, e os anticorpos anti-B(presentes no sangue tipo A) atacariam o sangue doado, gerando coágulos sanguíneos, resultando em problemas como embolia pulmonar, trombose e em alguns casos, a morte.
Porém, em uma pesquisa recente foi revelado que é possível converter sangue tipo A em tipo O, transformando um doador comum em um doador universal. Esse procedimento foi feito utilizando uma enzima (N-Acetil-α-D-galactosamina) obtida de bactérias situadas no nosso intestino, para modificar os antígenos das hemácias do sangue do doador, eliminando assim a rejeição.Desse modo, o sangue deixa de ser tipo A e transforma-se em tipo O. Tal transformação ocorre por meio da retirada da parte reativa dos antígenos presentes na superfície das hemácias tipo A, transformando-as em tipo O (Figura 3).
Figura 3: Conversão enzimáticadas hemácias do sangue tipo A para tipo O
Essa pesquisa foi feita por uma equipe liderada pelo cientista Stephen Withers, um bioquímico de Universityof British Columbia (UBC), em Vancouver, Canadá, e junto com o cientista Peter Rahfeld, conseguiram identificar a enzima necessária para fazer esse procedimento com eficácia e conseguiram isolar a sequência de DNA bacteriano que é responsável para a produção dessa enzima.
Agora o foco dos pesquisadores é expandir a pesquisa para, no futuro, conseguir o mesmo feito com o sangue tipo B, e posteriormente transformar todos os tipos sanguíneos em tipo O. É estimado pelos cientistas que a disponibilidade de sangue tipo O pode dobrar com essa descoberta e,no futuro, os benefícios serão incalculáveis, já que o tipo B é ainda mais comum que o A.
É válido lembrar também que, essa pesquisa foca primariamente no principal sistema sanguíneo ABO, mas existem 28 sistemas para separação de tipos sanguíneos. Entre eles sistema Rh é muito relevante também, ele define + ou – em tipos sanguíneos (ex: AB+ ou B-), logo é uma área de pesquisa ainda com muito a ser explorado e que ainda vai salvar muitos pacientes.
Fontes bibliográficas:
-Felipe Heck, Graduando em Farmácia pela UFRJ
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