Imagem: Divulgação/Takeda
Em um alerta epidemiológico emitido em fevereiro, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) reiterou que as Américas registraram o maior número de casos de dengue desde 2023, com mais de 4 milhões de casos e mais de 2 mil mortes. Diante dessa preocupação, desde 2023, o Ministério da Saúde tem estado vigilante em relação ao aumento dos casos de dengue no Brasil. Uma das medidas adotadas para prevenção foi a introdução da vacina contra a dengue. Vale ressaltar que o Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal.
A nova vacina desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda, chamada de QDENGA, está sendo distribuída pelo SUS (Sistema Único de Saúde) desde fevereiro deste ano (2024), para populações de regiões endêmicas, em 521 municípios no país. A distribuição não está sendo feita em todas as regiões porque o laboratório fabricante afirmou ter uma capacidade restrita de fornecimento de doses no momento. Para 2024, o Ministério da Saúde adquiriu 6,5 milhões de doses do imunizante e 9 milhões para 2025. Até o dia 21 de Março deste ano, mais de 470 mil doses foram administradas.
A vacina QDENGA é produzida utilizando uma forma enfraquecida do vírus da dengue, ou seja, a sua forma atenuada. Isso torna a vacina segura para ser administrada sem o risco de causar a doença. Essa atenuação é realizada em laboratório, garantindo que o vírus presente na vacina esteja vivo, mas incapaz de desencadear a enfermidade. Ao ser aplicada, a vacina estimula o sistema imunológico a
criar células e anticorpos específicos, fortalecendo a proteção contra a infecção pelo vírus da dengue.
A QDENGA atua principalmente possibilitando a replicação do vírus vacinal no local da aplicação e desencadeando respostas imunológicas tanto humorais quanto celulares contra os quatro sorotipos do vírus da dengue. Isso reforça a defesa contra a infecção por esse vírus.
O Brasil também está se destacando no campo da produção de vacinas. O Instituto Butantan, um dos maiores centros de pesquisa biomédica do país, está desenvolvendo uma vacina promissora. Atualmente, essa vacina está em fase final de estudos clínicos e, se aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), deverá ser incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2025.
A vacina contra a Dengue é eficaz?
Alguns anos após completar o esquema vacinal, a eficácia da Qdenga pode variar de acordo com fatores relacionados ao indivíduo, como: idade, estado de saúde e se já teve a dengue antes. Veja como a vacina funciona:
Para prevenir sintomas de qualquer gravidade: a vacina é eficaz em cerca de 63%.
Para evitar internações por causa da dengue: a eficácia chega a 85%.
Quantas doses tem o esquema vacinal?
De acordo com a Bula emitida pela Takeda, a Qdenga deve ser administrada por via subcutânea em um esquema de duas doses, com intervalo de 3 meses entre elas, sendo cada dose de 0,5mL.
Além disso, a necessidade de uma dose de reforço ainda não foi estabelecida.
E os efeitos adversos, quais são?
De acordo com as informações contidas na Bula, em estudos clínicos envolvendo participantes com idades entre 4 e 60 anos, as reações mais comuns relatadas foram:
Dor no local da injeção (50%)
Cefaleia (35%)
Mialgia (31%)
Eritema no local de injeção (27%)
Mal-estar (24%)
Astenia (20%)
Febre (11%)
Quem pode tomar a vacina?
A vacina QDENGA é recomendada para a prevenção de dengue em indivíduos de 4 a 60 anos de idade.
Entretanto, até o presente momento, serão vacinadas apenas crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. Isso porque, essa faixa etária caracteriza o maior número de hospitalização por dengue, ficando atrás apenas dos idosos. Entre 2019 e 2023, mais de 16,4 mil jovens de 10 a 14 anos foram hospitalizados por dengue.
A imunização de idosos, ou seja, indivíduos acima de 60 anos, não é indicada na bula porque os estudos apresentados à Anvisa pelo laboratório não incluíram essa faixa etária. Assim, a Anvisa ainda não liberou a QDENGA para uso em idosos.
Uma das razões para a contraindicação para pacientes idosos é que muitos sofrem de imunossenescência (perda de imunidade devido à idade) e podem estar em tratamento com medicações que aumentam a imunodeficiência. Esses fatores elevam o risco de complicações por dengue. Como a vacina QDENGA é feita com vírus atenuado, indivíduos com imunidade baixa podem ter uma resposta vacinal maior e desenvolver efeitos colaterais mais graves.
E quem NÃO pode tomar?
A QDENGA é contraindicada nos seguintes casos:
Em indivíduos que apresentam hipersensibilidade à substância ativa ou aos excipientes mencionados na bula.
Em pessoas com imunodeficiência adquirida ou congênita, incluindo aquelas que estão em tratamento com terapias imunossupressoras como quimioterapia ou altas doses de corticosteroides sistêmicos.
Em indivíduos com infecção por HIV sintomática ou assintomática, desde que haja evidência de comprometimento da função imunológica.
Em mulheres grávidas, devido à escassez de dados sobre o uso da QDENGA durante a gravidez.
Em mulheres que estejam amamentando.
Referências
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Ministério da Saúde anuncia estratégia de vacinação contra a dengue. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2024/janeiro/ministerio-da-saude-anuncia-estrategia-de-vacinacao-contra-a-dengue>.
OPAS pede intensificação de esforços para combater a dengue - OPAS/OMS | Organização Pan-Americana da Saúde. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/noticias/20-2-2024-opas-pede-intensificacao-esforcos-para-combater-dengue#:~:text=De%20acordo%20com%20o%20alerta>.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Ministério da Saúde incorpora vacina contra a dengue no SUS. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/dezembro/ministerio-da-saude- incorpora-vacina-contra-a-dengue-no-sus#:~:text=O%20imunizante%20Qdenga%20tem%20registro>.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Entenda o funcionamento do Centro de Operações de Emergência contra a dengue e outras arboviroses. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2024/fevereiro/entenda-o-funcionamento-centro-de-operacoes-de- emergencia-contra-a-dengue-e-outras-arboviroses>.
MARACCINI, Gabriela. Vacina contra dengue: qual a diferença entre Qdenga e imunizante do Butantan?. CNN|Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/vacina-contra-dengue-qual-a-diferenca-entre-qdenga-e-imunizante-do-butantan/.
BULA, QDenga. Takeda. Disponível em: https://assets-dam.takeda.com/image/upload/v1688371996/legacy-dotcom/siteassets/pt-br/home/what-we-do/produtos/Qdenga_Bula_Profissional.pdf.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vacinação contra dengue: 12 cidades do Rio de Janeiro vão receber o imunizante. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias-para-os-estados/rio-de-janeiro/2024/janeiro/vacinacao-contra-dengue-12-cidades-do-rio-de-janeiro-vao-receber-o-imunizante>.
LABOISSIÈRE, Paula. Vacina contra dengue: entenda por que idosos precisam de receita. Agência Brasil. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-02/vacina-contra-dengue-entenda-porque-idosos-precisam-de-receita-medica>. Acesso em: 20 jun 2024.
ESCRITO POR: Caroline Menezes do Amaral Macedo (aluna de graduação em Farmácia - UFRJ)
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