Talvez a melhor forma de tomar sua medicação não seja junto com a refeição, com a janta ou depois do seu café com leite sagrado de todo dia. Mas calma, não precisa se desesperar, acompanha o texto para entender melhor.
Antes de um medicamento ser distribuído nas farmácias, são realizados vários testes para garantir a segurança e eficácia ao paciente e nesses estudos também se buscam o horário mais adequado e se podem ser administrados logo após as refeições ou se é necessário um intervalo maior ou até mesmo se é melhor tomar em jejum. Diante destas possibilidades, cada fármaco vai se comportar de maneira diferente, nesse caso, o seu maior aliado é a bula. Ela vai te ajudar a entender se o seu medicamento apresenta alguma interação específica com algum alimento, ou se precisa esperar algumas horas após a refeição e muitas outras instruções que são importantes para o paciente.
Mas precisa ser água? Não posso tomar a medicação junto com o café com leite ou com meu Nescau?
Você até pode fazer a administração após uma refeição, como dito anteriormente, dependendo da medicação, mas independente do medicamento que seja, desde a natureza química até a forma farmacêutica, eles devem ser tomados com água. Então nada de junto com ou café e sob hipótese nenhuma com a cervejinha. Pode ter certeza de que água não vai acarretar nenhuma interação, ao contrário do que poderia ocorrer, dependendo do fármaco, com o leite, a cafeína, bebidas alcóolicas e etc. E, de preferência, um copo cheio, para o seu comprimido não ficar entalado, além de facilitar a dissolução no estômago.
Mas como a comida poderia interferir na ação do medicamento?
Acontece que os nutrientes da sua refeição e os fármacos podem interagir entre si, podendo alterar a ação, biodisponibilidade e até a toxicidade do fármaco e talvez do nutriente também. Essas interações podem ser:
Físico-químicas: complexação entre os componentes alimentares e os fármacos;
Fisiológicas: quando os alimentos alteram a digestão, esvaziamento gástrico e trânsito intestinal e acabam atrapalhando na absorção do fármaco administrado pela boca;
Patofisiológicas: doenças que atrapalham a absorção do fármaco ou quando inibem o processo metabólico dos fármacos.
Abaixo seguem alguns exemplos de algumas medicações que você talvez conheça e possivelmente não saiba das interações fármaco-nutriente existentes:
A maioria dos medicamentos cardiovasculares, como o captopril, são instruídos para serem administrados de 2h a 3h após às refeições ou, ainda, 1h antes porque o alimento no tubo digestivo reduz a absorção do fármaco em cerca de 30 a 40%, o que, consequentemente, acaba diminuindo o efeito terapêutico.
A ciprofloxacina e a tetraciclina, ao serem administradas com leite, têm a sua absorção diminuída porque estes fármacos se complexam com os íons presentes na bebida e podem acabar sendo eliminados do seu organismo sem terem sido absorvidos, não realizando o efeito esperado.
Há também situações em que o medicamento atrapalha a absorção de nutrientes importantes. O metotrexato deve ser administrado com o estômago vazio porque altera o estado ótimo para o organismo receber o alimento. Esse fármaco danifica a mucosa intestinal e isso diminui a absorção de cálcio, por exemplo. Em geral, antiácidos, laxativos e antibióticos podem causar a perda de nutrientes. No caso dos antiácidos como carbonato de cálcio ou hidróxido de alumínio, há alteração do pH estomacal, o que modifica parâmetros de solubilidade e os nutrientes como cálcio e ferro formam complexos, diminuindo a absorção desses.
Depois de todos esses exemplos de interações fármaco-nutriente parece até que não seria uma boa ideia tomar logo após a refeição... Mas não é bem assim. Muitas vezes, para alguns medicamentos, a administração após a sua janta, por exemplo, pode facilitar a velocidade e extensão da absorção do fármaco. São três razões principais para que algumas medicações sejam recomendadas após a comida:
Aumentar a absorção do fármaco;
Reduzir o efeito de irritação da mucosa intestinal provocada por alguns fármacos;
Auxiliar na adesão do paciente à terapia; uma vez que se tornaria um hábito tomar a medicação logo após as principais refeições que o indivíduo realiza todos os dias geralmente no mesmo intervalo de horário (como almoço ou janta ou café).
Agora corre para ler a bula da medicação que você toma todo dia ou daquela que administra com frequência quando bate aquela dor de cabeça para certificar que não corre risco de nenhuma interação com a refeição. Lembrando que em caso de dúvidas, sempre tem um farmacêutico na farmácia pertinho da sua casa, estamos aqui sempre para ajudar!
Referências:
PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. curitiba.pr.gov.br. Orientação sobre ingestão correta de medicamentos. Curitiba: Pr. Municipal de Curitiba, 2011. Disponível em: https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:sGshH9zAF3wJ:https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/orientacao-sobre-ingestao-correta-de-medicamentos/21579&cd=14&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br. Acesso em: 28 set. 2022.
SANTOS, CLAUDIA A. VALENTE. InformaSUS-UFSCar. Alimentos e Bebidas que podem interferir no modo como medicações agem e prejudicar a Saúde de Idosos. [S.l.]. INFORMASUS.UFSCAR, 2020. Disponível em: https://informasus.ufscar.br/alimentos-e-bebidas-que-podem-interferir-no-modo-como-medicacoes-agem-e-prejudicar-a-saude-de-idosos/#. Acesso em: 28 set. 2022.
MOURA, Mirian Ribeiro Leite; REYES, Felix Guillermo Reyes. Interação fármaco-nutriente: uma revisão. Revista de nutrição, v. 15, p. 223-238, 2002.
CAPTOPRIL: comprimido. Responsável técnico Ronan Juliano Pires Faleiro - CRF-GO n° 3772. VP. 1B QD.08-B MÓDULOS 01 A 08 - DAIA - ANÁPOLIS – GO: Geolab Indústria Farmacêutica S/A, 2021. Disponível em: https://consultas.anvisa.gov.br/#/bulario/q/?numeroRegistro=154230001. Acesso em: 28 set. 2022.
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ESCRITO POR: Carolina Rodrigues Monteiro Barros (aluna de graduação em Farmácia - UFRJ)
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