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Será que dá para ser cientista e ainda amar os animais? Desde os tempos de Aristóteles já havia registros de experimentos com os bichinhos... Alguns séculos depois, atualmente, apesar de ainda serem cobaias de muitas pesquisas, podemos visualizar outras alternativas. Com o desenvolvimento tecnológico, caminhamos para o fim da exploração animal. Mas quais seriam essas alternativas? Acompanha o texto para entender melhor sobre o assunto.
LITERATURA CIENTÍFICA
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Primeiro, comecemos pelo básico, parece óbvio, mas é bom lembrar que há uma enorme literatura científica a ser explorada, diversas pesquisas com testes in vitro e também até com humanos já foram realizadas. Ou seja, muitas vezes já se têm informações bem consolidadas cientificamente que tornam desnecessários os testes em animais.
IN VITRO
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O método in vitro basicamente tenta reproduzir processos biológicos fora de um organismo vivo. São utilizados cultura de células e tecidos no ambiente laboratorial para não utilizar os animais e ainda assim tentar alcançar informações semelhantes como as que seriam obtidas na presença deles. Vários desses métodos já foram validados, o que diminuiu significativamente a utilização de seres vivos nas pesquisas. Inclusive até mesmo órgãos regulatórios já aceitam esse tipo de método para avaliar a segurança de vários produtos como cosméticos, aditivos alimentares, materiais de limpeza e etc. Além de tudo isso, é muito mais barato custear esses tipos de experimento do que bancar os gastos com o uso de animais.
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Mas não se engane, essas células precisam ter uma origem, porém vale ressaltar que a partir de uma amostra, centenas de outras podem ser reproduzidas. Também podem ser retiradas até mesmo dos seres humanos e são usadas em uma gama de ensaios.
IMPRESSORA 3D
Parece coisa de ficção científica e há alguns anos atrás parecia impossível ter uma dessas, mas atualmente existem várias empresas fabricantes e revendedoras de impressoras 3D aqui no mercado brasileiro mesmo. O objetivo é replicar a pele humana para testar os mais diversos produtos, inclusive algumas empresas já estão investindo na tecnologia. Isso tem muito a ver com essa nova geração que está mais voltada para o viés social, o qual está também relacionado à causa animal.
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Essa técnica seria chamada de bioimpressão, não só reproduzir o formato, mas também o comportamento funcional dos tecidos humanos. Portanto, com esse recurso poderiam ser avaliados vários parâmetros como toxicidade, eficácia e etc, os quais são importantíssimos para a indústria farmacêutica.
SOFTWARES, COMPUTADORES E MUITA MATEMÁTICA
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Mais um ponto para ficção científica, com computadores e softwares adequados, os cientistas buscam simular o funcionamento biológico humano. Com isso, projetam como se sucederá, por exemplo, uma doença ou uma reação a um produto, nosso foco aqui. Além disso, métodos estatísticos também são utilizados para prever a toxicidade comparando com outras substâncias presentes no banco de dados.
AO REDOR DO MUNDO
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As perspectivas são promissoras à medida que a tecnologia avança. E, inclusive, em alguns países já é proibido o uso de animais voltado para a indústria cosmética. Com isso, as empresas conseguem colocar os logos cruelty-free para identificar que o produto foi validado sem utilização de animais.
NOTÍCIAS
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Para o ramo cosmético, temos boas novas, ainda nesse mês (em 01/03/2023) foi publicado a Resolução Nº 58, a qual se refere à proibição do uso de animais vertebrados para o desenvolvimento e controle de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes (desde que os ingredientes ou compostos possuam a comprovação científica de segurança e eficácia).
Já nos Estados Unidos, em dezembro do ano passado (2022), foi assinada uma legislação pelo presidente, a qual dispõe sobre novos medicamentos NÃO precisarem de testes em animais para aprovação da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora relacionada ao departamento de saúde dos USA. Alguns pesquisadores ainda se mostram reticentes alegando que os métodos alternativos ainda seriam imaturos para substituir os ensaios com animais. Mas a aprovação da lei aponta que há um caminho, talvez seja mais longo já que é uma mudança muito significativa para a indústria, mas é uma mudança necessária.
CONCLUSÃO
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Depois de alguns desses métodos apresentados, podemos dizer que sim, é possível amar os animais e ainda ser cientista. Apesar dessa prática ainda ser muito presente nas mais diversas pesquisas e universidades, que possamos caminhar para que um dia isso não seja mais uma realidade.
Referências:
Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal. Resolução nº 58/2023, de 24 de fevereiro de 2023. Dispõe sobre a proibição do uso de animais vertebrados, exceto seres humanos, em pesquisa científica, desenvolvimento e controle de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes que utilizem em suas formulações ingredientes ou compostos com segurança e eficácia já comprovadas cientificamente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1º mar. 2023. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-58-de-24-de-fevereiro-de-2023-466792333. Acesso em: 2 mar. 2023.
Cultura de Células. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE: Laboratórios Multiusuários de Pesquisa (LAMPS). Disponível em: https://sites.ufpe.br/lamp-nupitsg/plataforma-cultivo-de-celulas/. Acesso em: 2 mar. 2023.
DE MATOS FERNANDES, Vanessa. CRUELTY FREE: uso de metodologias alternativas à testes em animais para garantir a segurança de produtos cosméticos. Uma revisão. 2021. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
Experimentação animal: Linha do tempo: breve histórico da prática no Brasil e no mundo. FIOCRUZ. Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/linha-do-tempo-breve-hist%C3%B3rico-da-pr%C3%A1tica-no-brasil-e-no-mundo#:~:text=1600%20O%20cientista%20William%20Harvey,aplic%C3%A1%2Dlos%20em%20pacientes%20humanos. Acesso em: 2 mar. 2023.
FDA no longer needs to require animal tests before human drug trials: New law welcomed by animal welfare groups, but others say change won’t happen fast. Science, 10 jan. 2023. Disponível em: https://www.science.org/content/article/fda-no-longer-needs-require-animal-tests-human-drug-trials. Acesso em: 4 mar. 2023.
Métodos Alternativos. FIOCRUZ: Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos. Disponível em: https://www.ictb.fiocruz.br/content/m%C3%A9todos-alternativos. Acesso em: 2 mar. 2023.
VIRISSIMO, Vivian. Governo Lula proíbe uso de animais em pesquisa para cosméticos, perfumes e itens de higiene: Resolução é do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal, órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia. Brasil de Fato, Brasília, 2023. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2023/03/01/governo-lula-proibe-uso-de-animais-em-pesquisa-para-cosmeticos-perfumes-e-itens-de-higiene. Acesso em: 2 mar. 2023.
ESCRITO POR: Carolina Rodrigues Monteiro Barros (aluna de graduação em Farmácia - UFRJ)
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