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Fitoterápicos

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Atualizado: 1 de jun. de 2022

As plantas têm sido utilizadas de forma terapêutica por séculos, antigas civilizações viam a cura por meio de plantas como algo sobrenatural. Em 1873, foi encontrado o Papiro Ebers, o mais antigo tratado de medicina egípcio – datado de 1600 a.C., comprovando o uso de plantas para fins terapêuticos.

Hipócrates (460-361 a.C.), considerado o pai da medicina, utilizava drogas de origem vegetal em seus pacientes e deixou uma obra – Corpus Hippocraticum, que é considerada a mais clara e completa da Antiguidade no que se refere à utilização de plantas medicinais [5].

Atualmente, o campo da farmacognosia (termo criado no séc. 18, ” pharmakon “= drogas e” gnosis ” = conhecimento)atua intensamente para descrever os benefícios de variadas plantas medicinais [1].


O que é esse campo?


É uma ciência multidisciplinar que atua na identificação e extração de compostos originários de plantas. Consiste no estudo de suas propriedades físico-químicas, biológicas e fármaco-toxicológicas [1].


Conceitos

O termo Fitoterapia deriva do grego phyton que significa “vegetal” e de therapeia, “tratamento” [4], e promove a geração de fitoterápicos extraídos de plantas medicinais ou derivados – exceto substâncias isoladas. Seus princípios ativos são utilizados com finalidade profilática, curativa ou paliativa [3], porém, apresentam efeitos adversos [1].

A fitoterapia segue o princípio dos contrários (alopatia), caso alguém tenha febre, utiliza-se um antitérmico [7].Os fitoterápicos são eficazes, no âmbito da atenção básica e promove redução dos custos, por esses motivos, oferece muitas vantagens e, o Brasil, é o país de maior biodiversidade do Planeta, uma das maiores potências vegetais do mundo [2]. Além disso, o investimento no estudo de plantas para produção de fitos é promissor [2], apesar do processo de pesquisa e desenvolvimento de um fitoterápico ter um custo um tanto elevado [7].

Segundo a OMS, cerca de 85% da população mundial faz uso de fitoterápicos com objetivos terapêuticos, devido ao baixo custo e fácil acesso [1]. No Brasil, temos o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, implantado pelo Ministério da Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, 12 fármacos fitoterápicos estão disponíveis no SUS [6].


Formas de atuação

A ação terapêutica das plantas é proveniente de seus compostos químicos (princípios ativos) e suas formas de utilização dependem da parte que será utilizada dessa planta [5] (exemplos abaixo), do efeito que se espera e da doença a ser tratada [5]. Partes utilizadas como: Raiz, casca (camada superficial do tronco), talo, folhas, flores como exemplo a camomila e/ou frutos [6].

Mediante a esses fatores, as plantas medicinais podem ser utilizadas sob várias formas: infusão, decocção, maceração, tintura, extratos fluido, mole ou seco, pomadas, cremes, xaropes, inalação, cataplasma, compressa, gargarejo ou bochecho [5]. Ou seja, não há fitoterápicos apenas na forma de comprimidos.


Desenvolvimento dos Fitoterápicos

Figura 2: Etapas de desenvolvimento de um fitoterápico (Alves, 2021). Fonte: https://guiadafarmacia.com.br/especial/plantas-medicinais-ou-fitoterapicos-saiba-diferencia-los/

As etapas detalhadas estão disponíveis no site da Rev. Guia da Farmácia: https://guiadafarmacia.com.br/especial/plantas-medicinais-ou-fitoterapicos-saiba-diferencia-los/


Exemplos

Tabela 1: Exemplos de medicamentos e produtos fitoterápicos. Fonte:http://www.crfsp.org.br/images/cartilhas/PlantasMedicinais.pdf

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) lançou o Memento Fitoterápico, documento oficial que reúne informações científicas de 28 plantas medicinais. As 28 espécies estão descritas no site: https://saude.abril.com.br/medicina/plantas-medicinas-poderes-as-contraindicacoes/.

Dentre as 28, separamos para este artigo, 3 espécies um tanto conhecidas:

  1. Valeriana (Valeriana officinalis)


Figura 3:Valeriana officinalis. https://br.pinterest.com/pin/484418503652228590/

Age aliviando o estresse, pois seu princípio ativo (valepotriatos) tem ação no sistema nervoso central [6], favorecendo o aumento da síntese de GABA (neurotransmissor) na lacuna sináptica, inibindo sua destruição [1], por isso exige prescrição médica [6].Os compostos são extraídos das raízes fortes, a parte da planta que absorve os nutrientes da terra [6], ou do caule e rizoma. É nativa da Europa e Norte da Ásia [1].

Forma de uso: cápsula, comprimido, extrato ou tintura.

Indicação: Sedativo moderado com efeito hipnótico, prescrito para tratamento de distúrbios do sono e ansiedade.

Contraindicação: Alérgicos ou sensíveis a algum dos componentes da fórmula, crianças menores de 12 anos, grávidas, quem está amamentando [6], alcoólicos ou usuários de outros sedativos, e indivíduos com cefaléia, tontura, coceira e distúrbios gastrointestinais [1].

Efeitos colaterais: Pode ocasionar depressão respiratória.


2. Castanha da Índia (Aesculus hippocastanum)

O princípio ativo utilizado (escina) é retirado das sementes e tem como função fortalecer os vasos sanguíneos [6]. A escina é composta de uma mistura de glicosídeos triterpênicos acilados e tem atividade anti-inflamatória, antiedematosa (inibe a inflamação e edema), além de atuar na proteção de vasos e ter atividade venotônica [11]. A escina age neutralizando a redução de ATP e com um aumento na atividade da fosfolipase A2, responsável pela liberação de precursores de mediadores inflamatórios. Por isso, é um fitoterápico bastante utilizado contra varizes [11], sendo isento de prescrição médica [6].

Forma de uso: Cápsula, comprimido e gel.

Indicação: Cabelos frágeis e insuficiência venosa proveniente de varizes ou hemorróidas.

Contraindicação: Crianças, alérgicos ou sensíveis a algum composto dessa planta e para indivíduos com insuficiência renal ou hepática [6].


3. Cáscara Sagrada (Rhamnus purshiana) – Disponível no SUS

Figura 6: Rhamnus purshiana. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1scara_sagrada

Essa planta tem como função auxiliar os intestinos, é uma planta norte-americana, porém é mito que ela ajuda a emagrecer!! É um Fitoterápico isento de prescrição médica. Seus compostos químicos são extraídos das cascas grossas (camada superficial do tronco) [6].

Tem efeito laxativo, os glicosídeos presentes no extrato desta planta permitem ser hidrolisados através das bactérias intestinais, soltando constituintes como crisaloína, barbaloína e outros, que provocam a estimulação e elevação do peristaltismo no cólon, colaborando para a expulsão do bolo fecal [12].

Forma de uso: Cápsula, comprimido, tintura, extrato e fluido.

Indicação: Constipação intestinal.

Contraindicação: Crianças, grávidas, mulheres amamentando, pessoas com cólicas, hemorróidas, náuseas, doenças de Crohn, desidratação, constipação crônica, insuficiência renal, hepática e cardíaca [6].


Efeitos adversos dos Fitoterápicos

Plantas também apresentam toxicidade, o conceito “natural” não exime o fato de até mesmo medicamentos fitoterápicos terem efeitos adversos, por isso, é importante buscar orientação médica e não ditados populares. Somente sob orientação médica e farmacêutica é possível quebrar mitos, saber as doses corretas, as partes da planta que podem ser utilizadas para fazer uma infusão, por exemplo, e ter atenção a grupos de riscos (idosos, crianças, gestantes, dentre outros).

A camomila, por exemplo, é muito popular e bastante utilizada para acalmar – sedativo leve, mas que não pode ser utilizada por gestantes [6]. E há plantas super tóxicas como “comigo ninguém pode”, que pode até matar.

A cocaína é outro exemplo, sendo também produto natural (extraída das folhas de coca) mas altamente prejudicial a saúde, por isso, é importante não se automedicar. Fazer uso de fitoterápicos de forma clandestina não é indicado [8].

O uso de plantas medicinais e/ou fitoterápicos durante a gravidez é perigoso pois, pode causar estímulo da contração uterina e, consequente aborto ou parto prematuro, e até má formação, dentre outros fatores. Por isso, é importante buscar orientação médica [10].


Curiosidades

Pode-se tomar um fitoterápico sem receita médica, só lendo a bula?

Sim, desde que a espécie vegetal que componha o produto conste na lista das isentas de prescrição [Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 10, de 9 de março de 2010]. Porém, mesmo assim é recomendado buscar orientação médica, para que o objetivo terapêutico seja alcançado [7].


Quais as diferenças entre a fitoterapia e a homeopatia?

A fitoterapia só utiliza plantas e segue os princípios dos contrários, (Alopatia), ou seja, por exemplo, quando o paciente tem febre administra-se medicamento para cessar a febre; enquanto a Homeopatia há o conceito de semelhante cura semelhante, ou seja, se está com febre utiliza-se medicamentos com uma substância que ocasione febre [7]. Além disso, a homeopatia considera o indivíduo como um todo, visando o equilíbrio de energias, por isso, utiliza-se medicamentos com princípios ativos diluídos e dinamizado.


Plantas medicinais são fitoterápicos?

Não. Os compostos das plantas medicinais podem se obter fitoterápicos [1], mas plantas medicinais são vegetais que podem ser utilizados com outras finalidades, inclusive terapêuticas.


Mas afinal, se também apresenta efeitos colaterais, qual a vantagem?

  1. Fitoterápicos tem ação em áreas onde medicamentos convencionais atuam mal;

  2. Proporciona menor risco (menos efeitos colaterais);

  3. Menor custo de produção se comparado a medicamentos convencionais;

  4. Menor impacto ambiental;

  5. Melhor aceitação pelos pacientes;

  6. Maior aplicação em problemas comuns;

  7. Menor incidência de intolerância e dependência;

  8. Atuação em diferentes especialidades médicas [9].

Por Talita Alves, Graduanda em Farmácia pela UFRJ.


Bibliografia:

  1. Ferreira, T.S.; Moreira, C.Z.; Cária, N. Z.; Victoriano, G.; SILVA Jr, W.F.; Magalhães, J.C. Fitoterapia: Introdução a sua história, uso e aplicação. Rev. Brasileira de Plantas Medicinais. Vol. 16, n. 2 – 2014. Disponível em:https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-05722014000200019&lng=en&tlng=en

  2. Pharmacia Brasileira. Homeopatia e fitoterapia: por que? – n. 81 – 2011. Disponível em: https://cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/131/003_opiniAo_do_presidente.pdf

  3. FIOCRUZ. Fitoterápicos – Disponível em: https://portal.fiocruz.br/fitoterapicos#:~:text=Fitoter%C3%A1picos%20s%C3%A3o%20produtos%20obtidos%20de,finalidade%20profil%C3%A1tica%2C%20curativa%20ou%20paliativa.

  4. TEIXEIRA, João Batista Picinini; BARBOSA, Aretuza Ferreira; GOMES, Christiane Helena Carvalho; EIRAS, Naiara Silva Vilela.  A Fitoterapia no Brasil: da Medicina Popular à regulamentação pelo Ministério da Saúde. Disponível em:  https://www.ufjf.br/proplamed/files/2012/04/A-Fitoterapia-no-Brasil-da-Medicina-Popular-%C3%A0-regulamenta%C3%A7%C3%A3o-pelo-Minist%C3%A9rio-da-Sa%C3%BAde.pdf

  5. Associação Paulista de Naturologia (APaNat). Fitoterapia – 2019. Disponível em: http://apanat.org.br/fitoterapia/

  6. Biernath, André. 28 plantas medicinais: dos poderes às contraindicações. 2019 – Disponível em:https://saude.abril.com.br/medicina/plantas-medicinas-poderes-as-contraindicacoes/.

  7. GUIA DA FARMÁCIA. Plantas medicinais ou fitoterápicos: saiba diferenciá-los. 2018. Disponível em: https://guiadafarmacia.com.br/especial/plantas-medicinais-ou-fitoterapicos-saiba-diferencia-los/

  8. SILVA, Célio Lopes; COLOMBI, Débora; MACHADO, Izabel; MELLO, Luciana Christante de; CELERE, Solange. Fitoterapia. Disponível em: https://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/fito/fito1.htm

  9. PIMENTEL, Eloisa Cavassani. Fitoterapia e plantas medicinais, Conceitos e histórico – 2016. Disponível em: http://www.saude.campinas.sp.gov.br/saude/programas/integrativa/curso_PICS/encontro_2016_08_11.18/Fitoterapia_Historico_Curso_PICS_Eloisa%20Pimentel.pdf

  10. SILVEIRA, Patrícia Fernandes da; BANDEIRA, Mary Anne Medeiros; ARRAIS, Paulo Sérgio Dourado. Farmacovigilância e reações adversas às plantas medicinais e fitoterápicos: uma realidade. Rev. Bras. Farmacogn. Vol. 18, N. 4. 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2008000400021

  11. Dudek-Makuch, Marlena; Studzinska-Sroka, Elzbieta. Horse chestnut – efficacy and safety in chronic venous insufficiency: an overview. Revista Brasileira de Farmacognosia 25 (2015) 533–541. Disponível em: https://link.springer.com/content/pdf/10.1016/j.bjp.2015.05.009.pdf

  12. PINHEIRO, Antônia Karmiles; GERON, Vera Lúcia Matias Gomes; JÚNIOR, André Tomaz Terra; NUNES, Jucélia da Silva; BRONDANI, Filomena Maria Minetto. Constipação intestinal: tratamento com fitoterápicos. Rev Cient FAEMA: Revista da Faculdade de Educação e Meio Ambiente – FAEMA, Ariquemes, v. 9, n. ed esp, p. 559-564, maio-jun, 2018. Disponível em: http://repositorio.faema.edu.br/bitstream/123456789/2169/1/Artigo.pdf

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