Você já deve ter ouvido falar do Sarampo, uma doença que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), foi erradicada em 2016 no Brasil e no mundo. No entanto, infelizmente, novos casos surgiram e ela voltou a ser uma preocupação para o país em 2018, com a aparição de dois surtos. Estudos apontam que o principal motivo para o retorno da doença é a baixa cobertura vacinal que não atingiu a meta estabelecida, de acordo com o Ministério da Saúde. Neste texto educativo vamos conhecer mais sobre o Sarampo, entender porque a doença voltou, como fazer para tratá-la e como preveni-la.
O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, grave, transmissível e extremamente contagiosa. A doença é causada pelo Morbillivirus e é muito comum na infância, mas também pode acometer adultos. As complicações infecciosas contribuem para a gravidade do sarampo, que pode, inclusive, levar à morte do paciente.
A origem do vírus do sarampo é parecida com a do coronavírus e da maioria dos vírus que infectam humanos: inicialmente o vírus infectava apenas animais, no entanto, o surgimento de mutações oportunas permitiram que ele infectasse também a nossa espécie.
Estrutura Viral
Estruturalmente a partícula do Morbillivirus se apresenta envelopada, envolvendo o nucleocapsídeo com morfologia variada. Esse nucleocapsídeo é constituído por estruturas idênticas que dobram em torno do mesmo eixo envolvendo e protegendo o genoma viral.
Na superfície do envelope viral há uma proteína hemaglutinina semelhante ao vírus da Influenza. Essa proteína interage com o receptor da membrana da célula hospedeira na etapa de adsorção viral. Em seguida há a proteína de fusão da membrana viral com a membrana da célula hospedeira.
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico de sarampo é clínico-epidemiológico, através dos sinais e sintomas da doença, sendo eles dor de garganta, exantema, que são manchas vermelhas na pele, febre, coriza, conjuntivite, entre outros. Em caso de dúvida no diagnóstico, é realizado o teste sorológico utilizando a técnica de ensaio imunoenzimático ou também conhecido como ELISA, que auxilia na detecção de anticorpos específicos. Os casos em que os resultados forem reagentes ou inconclusivos deverão ser notificados imediatamente e a coleta de segunda amostra de sangue deverá ser realizada entre 15 e 25 após a primeira coleta.
Caso seja necessário identificar o vírus, conhecer o genótipo e diferenciá-lo dos demais vírus, é necessário realizar um PCR (reação em cadeia da polimerase), segundo o protocolo do Ministério da Saúde. Para isso, são coletadas amostras de orofaringe, nasofaringe e urina até o 7º dia após aparecimento do exantema, principalmente nos 3 primeiros dias.
Infelizmente não existe tratamento específico para o sarampo, e por isso os recursos terapêuticos visam aliviar os sintomas, como aumentar a ingestão de líquidos para prevenir a desidratação, e uso de alguns medicamentos para aliviar alguns sintomas, desde que não sejam à base de ácido acetilsalicílico, pois este aumenta o risco de hemorragias.
O acompanhamento nutricional também é muito importante. Segundo o Guia de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde de 2019, é recomendado administrar vitamina A, na forma de palmitato de retinol, para todas as crianças diagnosticadas com sarampo, com o intuito de diminuir o número de casos graves e fatais, assim como prevenir as complicações da doença e desnutrição.
Vacinação
A principal forma de prevenção da doença é a vacinação. Ela é preparada com vírus vivo atenuado e não tem possibilidade de oferecer riscos em quem recebe a dose. Quando ela é aplicada no indivíduo, o vírus atenuado é capaz de se replicar, porém de maneira lenta e sem causar maiores danos ao organismo. Essa grande exposição ao vírus durante a replicação viral induz uma resposta imune e leva à produção de células com memória imunológica, garantindo o estabelecimento de imunidade contra o vírus em questão.
A vacina utilizada pode ser a tríplice viral ou a tetra viral e sua única diferença é que além de imunizar contra a caxumba, rubéola e sarampo, a vacina tetra viral também imuniza contra a varicela (catapora). A vacina deve ser administrada aos 12 meses de idade e a segunda dose entre os 15 e os 24 meses de idade e tem como objetivo prevenir o desenvolvimento da doença.
Epidemiologia
Após os últimos casos da doença no ano de 2015, o Brasil recebeu em 2016 a certificação da eliminação do vírus. Consequentemente, nos anos de 2016 e 2017 não foram confirmados casos de sarampo no País. Em 2018 foram confirmados 10.346 casos da doença. No ano de 2019, após um ano de franca circulação do vírus, o Brasil perdeu a certificação de “país livre do vírus do sarampo”, dando início a novos surtos, com a confirmação de 20.901 casos da doença. Em 2020 foram confirmados 8.448 casos e em 2021, até a Semana Epidemiológica (SE) 52, 668 casos de sarampo foram confirmados.
Segundo o Boletim Epidemiológico 3 (Volume 53, março de 2022), o Ministério da Saúde recomenda que os processos de trabalho das equipes sejam planejados de forma a vacinar o maior número de pessoas contra o sarampo, conforme orientações do Calendário Nacional de Vacinação, considerando ampliar as coberturas vacinais, no intuito de atingir a meta de pelo menos 95% de cobertura para as doses 1 e 2 da vacina tríplice viral, de forma homogênea.
Para diminuir o risco da ocorrência de casos graves e óbitos por sarampo, o Ministério da Saúde adotou, em agosto de 2019, a estratégia da Dose Zero da vacina tríplice viral para crianças de 6 a 11 meses de idade. Ainda, a partir de 23 de novembro de 2020, o MS suspendeu essa dose nos locais que interromperam a circulação do vírus, mantendo-a nos estados que continuam com a circulação do vírus do sarampo (Ofício Circular n.º 212/2020/SVS/MS).
Referências Bibliográficas
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