A raiva é uma doença progressiva e mortal, caracterizada como antropozoonose viral, isto é, é uma doença causada por vírus que é primária de animais, mais especificamente mamíferos, e pode ser transmitida a humanos.
O agente infeccioso é o vírus rábico, um vírus de RNA que está presente na saliva do animal portador, onde geralmente infecta humanos através da mordida do animal, mas a transmissão também pode ocorrer a partir de arranhões ou lambeduras de mucosa e seu diagnóstico é feito por exame laboratorial (World Health Organization).
É uma doença muito antiga, mas ainda perigosa e grave que apresenta taxa de 100% de letalidade, sendo um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento e é geralmente transmitida por cães e gatos nas áreas urbanas, e, no Brasil, por morcegos, que caracterizam o ciclo silvestre. A infecção pode ocorrer também através de animais de produção, como vacas, porcos e cavalos (Ministério da Saúde).
Ciclo Viral
Depois da saliva do animal portador entrar em contato com o organismo humano, o vírus presente na saliva penetra as células musculares do indivíduo infectado próximas do local da mordida ou arranhão e começa a se replicar, ele então se desloca até os nervos periféricos e até o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal).
Depois de atingir o sistema nervoso central, ele se replica rapidamente, causando inflamação e danos aos tecidos do cérebro, só então ele acaba gerando os sintomas iniciais variáveis.
O vírus da raiva é do gênero Lyssavirus, e é altamente eficiente em infectar novas células e se propagar no organismo hospedeiro, porque é capaz de evitar as respostas imunológicas do hospedeiro enquanto manipula a célula hospedeira para produzir mais vírus. (Secretaria da Saúde do Paraná).
Sintomas
Os sintomas da raiva humana só começam a aparecer quando o vírus chega ao cérebro. Esse período é de aproximadamente 45 dias após infecção.
O vírus da raiva é um vírus bastante perigoso e letal porque ele é capaz de infectar o tecido nervoso. O vírus ataca as células nervosas do corpo, danificando e destruindo o sistema nervoso central, causando encefalite aguda, um sintoma fatal que consiste na inflamação do cérebro.
Após a infecção, o indivíduo pode demorar a apresentar sintomas, com período variável, desde dias até um ano. Nas crianças, os sintomas costumam se manifestar mais rapidamente, mas no geral o período de incubação vai depender da localização e gravidade da mordedura, lambedura ou arranhão.
Os primeiros sintomas são inespecíficos, mas os mais comuns são:
pequeno aumento de temperatura
anorexia
entorpecimento
dor de cabeça
náuseas
dor de garganta
irritabilidade
inquietude
mal-estar geral
Ainda podem surgir complicações relacionadas à doença, como ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espasmos musculares involuntários, generalizados e/ou convulsões. Espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua também podem ocorrer quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando uma sialorréia intensa (“hidrofobia”) (Ministério da Saúde).
A raiva em números
Apesar de ser uma doença muito estudada e conhecida, ainda mata cerca de 60 mil pessoas no mundo por ano (OPAS) sendo 99% dos casos adquiridos com a mordida de um cão infectado (OMS). Porém, no Brasil os morcegos hematófogos correspondem pela maior parcela de casos de raiva em humanos atualmente (Ministério da Saúde).
Em 2022, foram confirmados cinco casos da doença no país e todos evoluíram para óbito. Essas ocorrências se juntam às outras 40 registradas no período de 2010 até 2022, sendo que em 2014 não houve registro da infecção (Ministério da Saúde).
PREVENÇÃO
Devido aos sintomas iniciais serem variáveis e apresentarem períodos variáveis, é recomendável evitar se aproximar de cães e gatos sem donos, não mexer ou tocá-los quando estiverem se alimentando, com crias ou mesmo dormindo. Quanto aos morcegos, evite visitar cavernas e dormir ao ar livre sem a devida proteção, pois pode aumentar o risco de inoculação do vírus da raiva contido na saliva desses animais.
A raiva é uma doença fatal, mas também é uma doença fácil de se evitar.
Além disso, é importante lavar o local da mordida o mais rápido possível, capturar o animal ou pelo menos observá-lo por alguns dias.
A maior prevenção é vacinar cães e gatos domésticos e se vacinar contra a raiva!
A vacina antirrábica (inativada) é indicada para a prevenção da raiva em crianças e adultos e pode ser administrada antes e após a exposição, como vacinação primária ou como dose de reforço.
Em 1973 foi criado o Programa Nacional de Profilaxia da Raiva, que implantou a vacinação antirrábica canina e felina em todo o território nacional.
Desde a criação desse programa houve um decréscimo significativo nos casos de raiva através desses animais, o que permitiu um controle da raiva urbana no Brasil.
De 1999 a 2017, o Brasil saiu de 1,2 mil cães positivos para raiva em 1999, para 11 casos de raiva canina em 2020, todos identificados como variantes de animais silvestres.
TRATAMENTO
Nenhuma terapia específica tem demonstrado benefício na raiva clínica. Atualmente, o tratamento é direcionado para as complicações clínicas da doença.
Embora a raiva não seja tratável, todas as tentativas devem ser feitas para se obter um diagnóstico rápido.
Ainda assim, é importante procurar assistência médica imediata se houver suspeita de exposição ao vírus da raiva, pois o tratamento desse vírus letal é mais eficaz quando iniciado precocemente.
Em caso de ataque de animais suspeitos, seja ele doméstico, silvestre ou de produção, o Ministério da Saúde recomenda a visita ao posto de saúde mais próximo para tomar a vacina antirrábica , que, dependendo do caso, pode ser aplicada em até 5 doses. (Ministério da Saúde).
O tratamento da raiva humana deve ser aplicado em duas situações distintas:
Profilaxia pré-infecção: é um tratamento preventivo, utilizando a vacina antirrábica em pessoas que ainda não entraram em contato com o vírus da raiva. Também é indicada a vacina preventiva para grupos considerados de risco como veterinários, biólogos, profissionais de laboratório de virologia, assim como pessoas que têm contato no manejo de animais domésticos, silvestres ou de produção.
Profilaxia pós-infecção: é o tratamento indicado depois que a pessoa foi mordida ou arranhada por um mamífero.
Inclui a aplicação da vacina antirrábica e de imunoglobulina antirrábica humana (produzida a partir do plasma de doadores previamente imunizados) contendo anticorpos que vão ajudar a neutralizar o vírus da raiva e reduzir o risco de complicações graves após uma exposição suspeita, prevenindo que a doença progrida.
Ainda pode ser aplicado o soro antirrábico (composto por imunoglobulinas específicas obtidas do plasma de equinos vacinados contra a raiva). Este soro é aplicado no local do ferimento para impedir o desenvolvimento e a progressão da doença.
Quando esses recursos não são introduzidos a tempo, o quadro torna-se irreversível e evolui para coma e morte em alguns dias.
O Ministério da Saúde publicou em 2011 com base em estudos e evidências o Protocolo de Tratamento da Raiva Humana no Brasil, onde recomenda-se também o uso do dicloridrato de sapropterina (2mg/kg via enteral) de 8 em 8 horas.
CONCLUSÃO
A prevenção da raiva é o mais importante pois o tratamento é somente eficaz se imediato;
Previna-se evitando contato com animais desconhecidos ou não vacinados,
A melhor maneira de prevenir a hidrofobia nos centros urbanos é manter a vacinação de animais domésticos, em dia (a primeira dose da vacina deve ser aplicada aos três meses de idade e depois uma vez por ano, todos os anos.);
E principalmente vacinando-se preventivamente contra a raiva;
Em caso de ataque de qualquer animal suspeito lave o ferimento com água e sabão e procure por atendimento imediato no posto de saúde mais próximo.
Referências:
Central for Disease Control and Prevention (CDC). “Rabies”, cdc.gov
Ministério da Saúde. “Vacinação anual de cães e gatos também previne a raiva humana; entenda os sintomas da doença”, gov.br, 2022.
Ministério da Saúde. Guia de Bolso: “Raiva”.
Ministério da Saúde. “Ministério da Saúde doa medicamento para tratamento da raiva humana”, gov.br, 2017.
Martins, Giurla. Ministério da Saúde. “RAIVA: SAIBA COMO PREVENIR A DOENÇA”, gov.br, 2022.
Secretaria da Saúde (Governo do Estado do Paraná). “Guia de Vigilância em Saúde”, saude.pr.gov.br.
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde. “Dicas em Saúde: Raiva”. bvsms.saude.gov.br, 2009.
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). “Dia Mundial Contra a Raiva”, paho.org, 2022.
Jordan, J. World Health Organization. “Rabies”, who.int.
Escrito por Bianca Pestana, aluna de graduação de Biotecnologia, UFRJ.
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