A dipirona é um dos analgésicos mais vendidos do Brasil, é um medicamento de venda livre e que possui diversas indicações, como: febre, gripes e resfriados, dores de cabeça, dores musculares, cólica renal, cólica menstrual, pós-operatórias, nevralgias, reumatismo muscular e artrites. A dipirona pode ser encontrada em diferentes formas farmacêuticas que vão desde comprimidos, gotas até soluções injetáveis, facilitando sua administração e sua aceitação na população.
Entretanto esse medicamento é proibido há décadas nos EUA e em algumas partes da União Europeia, devido à uma controvérsia sobre um possível efeito colateral: a agranulocitose, uma alteração no sangue grave e potencialmente fatal marcada pela queda na quantidade de alguns tipos de células de defesa.
E por que no Brasil, seu uso é considerado seguro?
Primeiramente, é necessário entender o mecanismo de ação da dipirona. Esse mecanismo ainda não é completamente elucidado, mas há teorias sobre, vamos destacar as duas principais:
Inibir o COX - A hipótese é que ela inibe o COX3, mecanismo central pelo qual o fármaco exerce funções analgésicas e antitérmicas, através do alívio das inflamações.
Via inibição da síntese de prostaglandina - inibe a produção de prostaglandinas, que são substâncias químicas envolvidas em processos inflamatórios, dor e febre.
Esse funcionamento misterioso da dipirona fez com que diversos estudos fossem feitos na década de 60 e 70, e um deles mostrou que a agranulocitose acontecia em um indivíduo para cada 127 que consumiam a aminopirina — uma substância cuja estrutura é bem parecida à da dipirona.
Tendo como base essa semelhança química, os autores não fizeram distinção entre as duas moléculas e assumiram que os dados obtidos para a aminopirina seriam também aplicáveis à dipirona”, aponta um artigo da Universidade Federal de Juiz de Fora e da Universidade de São Paulo, publicado em 2021.
A partir dessa e de outras evidências, a Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória dos Estados Unidos, decidiu que a dipirona deveria ser retirada do mercado americano em 1977.
Porém outros estudos foram feitos a partir dos anos 80, mostrando a segurança do medicamento. O estudo Boston, por exemplo, foi feito por oito países incluindo 22 milhões de pessoas e mostrou 1 caso de agranulocitose a cada 1 milhão de indivíduos, mostrando que o risco de desenvolver essa condição é muito baixo.
A conclusão é que provavelmente existe uma modificação genética que facilita o aparecimento da agranulocitose, por causa do uso da dipirona. Essa modificação é mais comum nos EUA e partes da Europa.
E como o Brasil fica em relação à agranulocitose?
Foi feita uma grande pesquisa sobre o fármaco na América Latina (Brasil, Argentina e México) com 548 milhões de pessoas e apenas 52 casos foram identificados. Demonstrando a segurança da Dipirona.
Inclusive a ANVISA liberou uma nota sobre esse assunto, em que diz:
“A eficácia da dipirona como analgésico e antitérmico é inquestionável e que os riscos atribuídos em nossa população são baixos e similares, ou menores, que o de outros analgésicos e antitérmicos disponíveis no mercado.”
Além disso a eficácia da dipirona é comprovada, demonstrando que o analgésico é eficaz até para dores intensas, sendo utilizada até mesmo em ambientes hospitalares.
Vale lembrar que por mais que o medicamento seja comprovadamente seguro no Brasil, é preciso estar atento aos limites máximos da dipirona por dia (4g) e os possíveis efeitos colaterais (alergias e queda de pressão).
Evite a automedicação, busque a ajuda de um profissional de saúde, como um farmacêutico ou um médico que irá auxiliá-lo da melhor maneira.
Agora que você já sabe de toda polêmica envolvendo a dipirona, o que acha sobre, vai continuar tomando ela sem preocupações?
Texto escrito por Klara Victória, aluna de farmácia, UFRJ.
Fontes:
G1. (2023, 17 de agosto). Por que dipirona é vendida no Brasil, mas proibida nos EUA e em parte da Europa. [URL completa]. Disponível em: https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/08/17/por-que-dipirona-e-vendida-no-brasil-mas-proibida-nos-eua-e-em-parte-da-europa.ghtml
Sincofarma São Paulo. (2022, 27 de abril). Ranking dos 10 analgésicos mais vendidos no Brasil em unidades. [URL completa]. Disponível em: https://sincofarmasp.com.br/2022/04/27/ranking-dos-10-analgesicos-mais-vendidos-no-brasil-em-unidades/
BBC. (Data de publicação não disponível). Mais de 215 milhões de pessoas usam remédio proibido há décadas. [URL completa]. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/media
ANDRADE, Ademar de. Uso de Dipirona na Automedicação. Dez. 2010. Disponível em: <http://www.bc.furb.br/docs/mo/2010/347562_1_1.pdf>. Acesso em: 24 set. 2023
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