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Dipirona: O Medicamento Versátil

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A dipirona, também conhecida como metamizol, é um fármaco amplamente utilizado em todo o mundo devido à sua eficácia no alívio da dor e da febre. Seu mecanismo de ação é complexo, envolvendo múltiplos sistemas, mas principalmente atuando como um inibidor das enzimas ciclooxigenases (COX), diminuindo assim a produção de prostaglandinas, substâncias envolvidas na inflamação e na sensibilização dos receptores da dor.

A Dipirona é um Anti-inflamatório não esteroidal (AINEs), uma das classes de fármacos mais difundidas em todo mundo, utilizados no tratamento da dor aguda e crônica decorrente de processo inflamatório. Tal processo inflamatório é uma resposta normal a qualquer agente lesivo (físico, químico ou biológico). Em comparação com os anti-inflamatórios esteroidais, os AINEs não suprimem a imunidade. 

Legenda: Após uma lesão ou infecção, o organismo libera uma série de substâncias que, em última instância, leva à dor para resolução do problema. Fármacos AINEs como dipirona agem bloqueando a COX, de modo que as prostaglandinas não são liberadas, reduzindo a dor.  Fonte: Adaptado de SAMAD et al, 2002; HILÁRIO, 2006.


Indicação e composição

A dipirona é indicada para o tratamento de diversas condições, incluindo dor aguda e crônica, febre, enxaqueca, cólicas menstruais e pós-operatórias, entre outras. Sua composição química é descrita como metamizol sódico, uma substância sintética derivada da pirazolona.


Contraindicações

A dipirona é contraindicada em pacientes com história de hipersensibilidade (alergia) à dipirona ou a qualquer componente da fórmula, bem como em pacientes com certas condições, como insuficiência renal grave, deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) e asma induzida por analgésicos.


Por que a dipirona é tão utilizada?

Apesar das preocupações com sua segurança, a dipirona é amplamente utilizada devido à sua eficácia no alívio da dor e da febre, sua disponibilidade em diversas formas farmacêuticas e seu baixo custo. Além disso, é considerada uma alternativa eficaz quando outros analgésicos não são suficientes.



Fonte: Pinterest. Autor desconhecido.


Por que algumas pessoas possuem alergia ao Dipirona?

Embora a alergia à dipirona seja considerada rara, a incidência exata varia em diferentes populações e regiões geográficas. Estudos epidemiológicos sugerem que a prevalência de alergia à dipirona varia de cerca de 0,1% a 2% da população. Esses números podem variar dependendo de fatores como idade, sexo e predisposição genética.


Dipirona sódica ou monoidratada?

A diferença entre as duas é apenas a nomenclatura. Ambas se referem ao princípio ativo do medicamento e têm a mesma finalidade.

A dipirona é encontrada em diferentes medicamentos pois existem os medicamentos de referência: quando um princípio ativo inédito tem sua eficácia e segurança comprovada pela Anvisa, ele é vendido com exclusividade por dez anos. Após esse tempo, outros medicamentos com o mesmo princípio ativo são vendidos - esses são os chamados similares. 

Hoje, o medicamento referência para a dipirona sódica é a Novalgina, mas pode ser encontrado na Dipimed, Nofebrin etc. Aqueles nomeados apenas como “dipirona sódica/monoidratada” são os genéricos, chamados apenas pelo princípio ativo.


Segurança no uso

Apesar de sua eficácia, a dipirona tem sido objeto de debate devido a preocupações relacionadas à segurança. Em alguns países, como os Estados Unidos, seu uso foi retirado de diversos países como Estados Unidos, Japão, Austrália e grande parte da União Europeia devido ao risco de agranulocitose, uma condição rara, mas grave, caracterizada pela diminuição dos glóbulos brancos no sangue. 

No Brasil, a dipirona foi alvo de uma grande pesquisa, denominada Latin Study, observando-se que: entre janeiro de 2002 e dezembro de 2005, cientistas de Brasil, Argentina e México se debruçaram sobre dados de 548 milhões de pessoas. Nesse universo, foram identificados 52 casos de agranulocitose — o que representa uma taxa de 0,38 caso por milhão de habitantes/ano. Logo, a Anvisa não vê necessidade e nem prevê uma proibição do medicamento no Brasil. 

Portanto, apesar de a dipirona ter sido associada a um risco de agranulocitose, diversos estudos mostraram que, em comparação com outros analgésicos e antipiréticos disponíveis, ela tem uma relação risco-benefício favorável e níveis aceitáveis de toxicidade. Além disso, sua ampla disponibilidade, boa margem de segurança e baixo custo são justificativas importantes para seu uso e comercialização como medicamento que não precisa de prescrição.


Efeitos Adversos da Dipirona

Como já mencionado, o uso da dipirona pode estar associado a vários problemas potenciais, principalmente se usado por longos períodos e de forma indiscriminada:

  • Agranulocitose: a redução perigosa no número de granulócitos no sangue pode levar a infecções severas e até mesmo ser fatal se não for tratada rapidamente.

  • Reações alérgicas: podem variar de leves (como erupções cutâneas) a graves (como choque anafilático). Essas reações podem ocorrer mesmo com doses baixas e em pessoas sem histórico prévio de alergia.

  • Toxicidade renal e hepática: O uso prolongado de dipirona pode afetar negativamente os rins e o fígado, órgãos responsáveis pela metabolização e excreção do medicamento.

  • Distúrbios gastrointestinais: O uso contínuo de dipirona pode causar distúrbios gastrointestinais como dor abdominal, náusea e vômito. Em casos raros, pode causar sangramento gastrointestinal.

  • Efeitos sobre a pressão arterial: A dipirona pode causar hipotensão (queda da pressão arterial), especialmente quando administrada por via intravenosa. Isso pode ser problemático em pacientes com problemas cardiovasculares.

  • Interações medicamentosas: A dipirona pode interagir com outros medicamentos, potencializando ou reduzindo seus efeitos. Isso é particularmente importante em pacientes que fazem uso de múltiplas medicações.


Por esses motivos, é fundamental que o uso da dipirona seja cuidadosamente monitorado por um profissional de saúde, especialmente em casos de uso prolongado. É importante seguir as orientações médicas e não utilizar a medicação de forma indiscriminada.


Escrito por: Maria Eduarda Ferreira, estudante do 7º período de Biomedicina na UFRJ.


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