Você já deve ter se perguntado como o dorflex sabe onde dói? As vezes tomamos este medicamento para dor nas costas, outras vezes para dor de cabeça, entre outras dores que ele é capaz de exercer seu efeito terapêutico. Simplesmente o Dorflex não sabe onde dói, ele se distribui para todas as partes do corpo em um processo chamado distribuição do fármaco no organismo.
Fonte: Istock
A distribuição de fármacos no organismo compõe uma das fases da farmacocinética. A farmacocinética estuda “o que o corpo faz com o fármaco”, ou seja, todos os processos que o fármaco vai passar no nosso organismo desde a ingestão do comprimido até sua eliminação do corpo. O dorflex após ser administrado em um comprimido via oral (pela boca), chega ao trato gastrointestinal, onde o comprimido será desintegrado e os princípios ativos do dorflex, dipirona, orfenadrina e cafeína, serão dissolvidos no fluido gastrointestinal e, em seguida, serão absorvidos. Após o processo de absorção, o fármaco está disponível na corrente sanguínea e pronto para se distribuir para todas as partes do corpo.
Existe uma grande variabilidade na distribuição de fármacos no organismo, enquanto alguns, como o ácido acetilsalicílico (conhecido como Aspirina) tem um volume de distribuição de 10 L, a cloroquina tem um volume de distribuição de 1000 L!!
Calma, nosso organismo não tem 1000 L, um adulto de 70 kg apresenta em média 42 L de água em seu corpo, sendo 5 L de sangue e 27 L de água intracelular e o restante de água intersticial. Então, como um fármaco pode ter um volume de distribuição de 1000 L?
Devido à dificuldade de se obter valores reais de distribuição do fármaco em cada órgão, (imagine ter que coletar uma amostra de cada órgão do seu corpo para saber o quanto do fármaco se distribui!), nós calculamos o volume de distribuição aparente, uma medida de relação entre a quantidade total do fármaco no organismo e a sua concentração no plasma sanguíneo (uma amostra mais fácil de ser obtida). Isso significa que o volume de distribuição aparente não representa um volume físico real.
Alguns fatores relacionados ao fármaco ou a fisiopatologia do paciente determinam o volume de distribuição de um fármaco no corpo, dentre eles:
1) As características físico-químicas do fármaco se relacionam com o volume de distribuição, em geral, fármacos ácidos tendem a ter pequenos volumes de distribuição (< 50 L), enquanto compostos básicos têm valores mais elevados (> 100 L).
Fonte: Istock
2) A distribuição de um fármaco no organismo pode ser limitada pela perfusão no órgão, ou seja, depende do fluxo sanguíneo que chega ao tecido, por exemplo, enquanto nos rins temos um fluxo sanguíneo de 450 mL/100 g tecido/min (o rim é um órgão altamente perfundido), temos apenas 1 mL/100g tecido/min na gordura (órgão pouco perfundido). Em outros casos, quando existe alguma barreira na membrana celular à passagem do fármaco para o tecido, a distribuição é limitada pela permeabilidade.
Fonte: Istock
3) A fração do fármaco que se liga às proteínas plasmáticas, como a albumina, impacta diretamente no volume de distribuição. Fármacos altamente ligados à proteína plasmática, tendem a ficar no plasma e distribuir menos aos tecidos, uma vez que somente a fração livre do fármaco no plasma que é capaz de atravessar as membranas biológicas.
Fonte: autoria própria
4) A ligação do fármaco ao tecido também determina o volume de distribuição, o valor da razão de ligação relativa do fármaco entre tecido e plasma (chamado de Kp) nos indica o quanto o fármaco tem afinidade por dado tecido, quanto maior o valor de Kp, maior a afinidade pelo tecido.
Conhecer o volume de distribuição aparente é muito importante na prática clínica a fim de estipular a dose de ataque. Em uma emergência médica, em que é necessário que o fármaco atinja rapidamente uma concentração terapêutica alvo, é necessário considerar o volume de distribuição para determinar a dose de ataque. Por exemplo, no tratamento de um infarto do miocárdio, em que será administrado o antiarrítmico amiodarona, um fármaco com alto volume de distribuição (~4500 L), a dose de ataque é calculada multiplicando a concentração alvo e o volume de distribuição.
Referências:
Introdução à Farmacocinética e à Farmacodinâmica. Eds: TOZER, T.N.; ROWLAND, M. Editora Artmed, 2009.
Autora: Fernanda de Lima Moreira
Comments