Autismo
O Transtorno do Espectro Autista é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação e as habilidades sociais do paciente. Também é caracterizado por movimento repetitivos e estereotipados. Normalmente é descoberto na infância e afeta 1 a cada 68 crianças nos Estados Unidos. (Durkin MS et al., 2017)
Apesar de comum nas últimas décadas, é um transtorno cercada por diversos mitos. Existem pessoas que acreditam que vacinas podem causar o autismo, que autistas são pessoas mais inteligentes do que a média, mas o que realmente é o espectro autista?
História da descoberta do transtorno do espectro autista
O termo “autismo” foi primeiramente utilizado para descrever um sintoma da esquizofrenia em 1911 por Eugene Bieuler. Ele apenas conectou um sintoma de fuga da realidade com o termo.
Em 1943, o autismo foi descrito pelos médicos austríacos Leo Kanner e Hans Asperger em artigos diferentes. A pesquisa deles foi separada, mas, coincidentemente publicada no mesmo ano, sendo a tese do doutorado de Hans Asperger.
Nas décadas de 50 e 60 um psicólogo chamado Bruno Bettelheim descreveu a causa do autismo com o termo mãe-geladeira, ele afirmou que a indiferença e apatia demonstrada pela mãe poderia causar o autismo.
Nos anos 70 a teoria da mãe-geladeira descrita por Bruno Bettelheim foi rejeitada e outras possíveis causas começaram a serem pesquisadas. Também nos anos 70 os trabalhos de Asperger foi traduzido e dessa época saiu a denominação da Síndrome de Asperger para um tipo de autismo de alto desempenho.
Em 2007, a Organização das Nações Unidas decretou o dia 2 de abril como o dia mundial do autismo.
Os Símbolos no Autismo
Em relação a cor: O azul é utilizado normalmente para simbolizar a conscientização sobre o autismo. Essa cor foi escolhida pela OMS e simboliza a prevalência maior do autismo em meninos em relação a meninas (proporção de 4:1). A Cor Azul ilumina prédios e monumentos no dia 2 de abril, dia da conscientização do Autismo (Autismo e Realidade 2019. Acesso: 06/08/2020).
Em relação a peças de quebra cabeça e o uso da fita: As peças de quebra-cabeça e fita como mostrado na Figura 1, têm significados separados. As peças representam a complexidade do transtorno do espectro autista e foram usadas pela primeira vez em 1963 pela associação americana Autism Speaks. A inclusão da fita se deu em 1999 com as peças de quebra-cabeça e tornando-a mais conhecida. (Autism Speaks 2019. Acesso: 08/08/2020).
-Logotipo da neurodiversidade: O logotipo é um sinal do infinito colorido como arco-íris que foi feito para servir como uma alternativa para o quebra-cabeça, sendo a logotipo mais recente para conscientizar sobre o TEA (transtorno do Espectro Autista). (Autismo e Realidade 2019. Acesso: 06/08/2020).
Figura 1: Símbolo da campanha de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista. Fonte: Governo do Ceará. https://www.ceara.gov.br/2019/10/18/autismo-quanto-mais-cedo-o-diagnostico-melhores-sao-as-possibilidades-de-tratamento/ Acesso: 09/07/2020
Apenas em 2013, o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5) foi atualizado e cunhou o termo técnico Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Em 2018, a Organização Mundial da Saúde seguiu o DSM-5 na sua nova versão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11).
Fisiologia
Por se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento, o órgão mais afetado no autismo é o cérebro em suas diferentes regiões, mas principalmente a cortical, que está associada a fala e a sociabilidade.
Além dos neurônicos, uma das células afetadas no caso do autismo são os astrócitos (Figura 2), responsáveis pela sustentação e regulação iônica no neurônio, realizando a interligação entre os capilares sanguíneos e as células nervosas. Logo, qualquer problema com o astrócito afeta diretamente o desenvolvimento do neurônio, influenciando a quantidade de sinapses feitas naquela área (Baldino et al., 2018).
Figura 2: Demonstração de como é a estrutura do neurônio associado com o astrócito.
Fonte: InfoEscola. https://www.infoescola.com/citologia/celulas-da-glia/ Acesso: 09/07/2020
Sintomas
Os sintomas do autismo variam de paciente para paciente, mas em todos os casos eles começam durante a infância e podem ser mais intensos nos primeiros anos de vida. Dentre os sintomas, mais comuns podemos citar:
-Déficits sociais: Dentro dos déficits sociais são encontrados problemas para entender convenções sociais, aspectos intuitivos para quem não tem esse transtorno. (CID – 11)
– Problemas de fala: Alguns autistas podem expressar problemas no desenvolvimento da fala, principalmente, durante a infância, enquanto a criança ainda está começando a falar. (CID – 11)
– Escala de comportamento repetitivo (Figura 3) (RBS-R): comportamentos repetitivos e compulsivos, como movimento das mãos, organização compulsiva e uma resistência excessiva a mudanças (CID – 11)
Figura 3: Criança autista, organizando seus brinquedos. Fonte: Tismo. https://tismoo.us/saude/quais-os-sinais-e-sintomas-de-autismo/ Acesso: 09/07/2020
Diagnóstico
O autismo não pode ser detectado facilmente em um nível molecular, já que ele é composto por diversas características genéticas que se entrelaçam, complicando o diagnóstico por exames focados na fisiopatologia.
O diagnóstico é feito a partir do relato clinico e somente o profissional médico (neuropediatra, neurologista e psiquiatra) podem emitir o laudo, a partir de relatórios neuropsicológicos realizado por equipe multidisciplinar (psicólogo, fonoaudiólogo, pedagogo, terapeuta ocupacional), que baseando-se no comportamento do paciente e as características diagnósticas , elabora os relatório (Figura 4).
Os sintomas podem ser vistos antes dos 3 anos de idade, o primeiro momento em que eles podem ser observados é durante a amamentação, caso o filho não faz contato visual com a mãe, dentre outras características (Baron-Cohen et al., 2009).
Figura 4: Profissional fazendo exames com a criança. Fonte: Psicólogos Berrini. https://www.psicologosberrini.com.br/terapia-infantil/psicologo-e-as-criancas/ Acesso: 09/07/2020
Tratamento
1- Tratamento medicamentoso: Não há medicamentos direcionados especificamente para o tratamento do TEA, os medicamentos usados no Autismo têm, em sua maioria, o intuito de minimizar os sintomas em casos graves (Figura 5).
Figura 5: Ilustração de um Medicamento Fonte: O Globo. https://oglobo.globo.com/sociedade/anvisa-pede-para-pessoas-nao-pararem-de-tomar-remedios-contra-hipertensao-de-lotes-recolhidos-23655835 Acesso: 09/07/2020.
Normalmente, o medicamento é direcionado para combater sintomas específicos, mas é importante ressaltar que foi produzido para outras doenças que possuem sintomas parecidos com os apresentados por pacientes autistas. Dentre eles, dois se destacam:
a- Aripiprazol: é um medicamento produzido para o tratamento de esquizofrenia, principalmente, porque é utilizado para controlar casos de irritabilidade, compulsividade e hiperatividade, mas também auxilia no tratamento destes mesmos sintomas no TEA (Anderson et al., 2019).
b- Risperidona: nos Estados Unidos esse medicamento é amplamente utilizado para minimizar a irritabilidade do paciente em casos de esquizofrenia, mas também é utilizado para minimizar sintomas do TEA (Snene et al., 2017)
2- Tratamento não-medicamentoso: No tratamento do autismo existem diversas terapias que são utilizadas, principalmente na infância e na adolescência. O tratamento é mais produtivo nesses anos porque envolvem o desenvolvimento humano, onde vários profissionais fazem as intervenções com objetivo de melhorar do quadro a longo prazo. Dentre eles temos:
1- Psicólogo e Psiquiatra: o acompanhamento com profissionais do estudo da psique é importantíssimo para ver o progresso do paciente, ajudá-lo a seguir no caminho mais apropriado para desenvolver habilidades sociais e comportamentais que estão comprometidas no autismo.
2- Fonoaudiólogo: o acompanhamento com o fonoaudiólogo é importante para minimizar os problemas de fala do paciente, além de ajudar com déficit sociais durante as consultas. (Figura 6)
Figura 6: Consulta de uma fonoaudióloga. Fonte: Revista Quero. https://querobolsa.com.br/revista/quais-sao-as-areas-de-atuacao-da-fonoaudiologia Acesso: 09/07/2020
3- Terapia ocupacional: terapia ocupacional funciona principalmente na infância, gerando um ambiente propício para o desenvolvimento natural de habilidades sociais (Della Barba, et al 2013)
4- Terapia de grupo: terapia de grupo são recomendadas para o tratamento, estimulando o contato entre pacientes em um ambiente saudável e controlado (Furuhashi, et al,. 2015).
Recomendações
Filmes:
– Mary & Max – Uma Amizade Diferente: uma animação de 2009 muito bela sobre um adulto com síndrome de Asperger.
-Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador: um filme de 1993 sobre uma família em uma pequena cidade dos Estados Unidos que tem um filho do espectro autista, com um elenco maravilhoso.
– Felipe Heck, graduando em farmácia
Referências
1- Fombonne, E. (2008). Is autism getting commoner? British Journal of Psychiatry, 193(1), 59-59. doi:10.1192/bjp.193.1.59
2- Bates, G. (2010). Autism in fiction and autobiography. Advances in Psychiatric Treatment, 16(1), 47-52. doi:10.1192/apt.bp.108.005660
3- Voracek, M. (2010). Fetal androgens and autism. British Journal of Psychiatry, 196(5), 416-416. doi:10.1192/bjp.196.5.416
4- Jones, G. (1987). Autism research. Bulletin of the Royal College of Psychiatrists, 11(9), 314-314. doi:10.1192/S0140078900017958
5- Baron-Cohen, S. (2008). Autism. British Journal of Psychiatry, 193(4), 321-321. doi:10.1192/bjp.193.4.321
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7- Kanner, L. (1943) AUTISTIC DISTURBANCES OF AFFECTIVE CONTACT. Nervous Child, vol. 2, 217–250
8- Gorman, J. (2004). Expanding Our Knowledge of Autism. CNS Spectrums, 9(1), 12-12. doi:10.1017/S1092852900008300
9- Lam, K.S.L., Aman, M.G. The Repetitive Behavior Scale-Revised: Independent Validation in Individuals with Autism Spectrum Disorders. J Autism Dev Disord 37, 855–866 (2007). https://doi.org/10.1007/s10803-006-0213-z
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11- Russell, G., Collishaw, S., Golding, J., Kelly, S., & Ford, T. (2015). Changes in diagnosis rates and behavioural traits of autism spectrum disorder over time. BJPsych Open, 1(2), 110-115. doi:10.1192/bjpo.bp.115.000976
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17- Della Barba, P. C. D. S., & Minatel, M. M. (2013). Contribuições da Terapia Ocupacional para a inclusão escolar de crianças com autismo/Contributions of Occupational Therapy for the school inclusion of children suffering from autism. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 601.
18- Baldino,F. (2018) Modeling the Interplay Between Neurons and Astrocytes in Autism Using Human Induced Pluripotent Stem Cells. Biological Psychiatry
Volume 83, Issue 7, 1 April 2018, Pages 569-578. https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2017.09.021
19- Durkin MS, Maenner MJ, Baio J, et al. Autism Spectrum Disorder Among US Children (2002-2010): Socioeconomic, Racial, and Ethnic Disparities. Am J Public Health. 2017;107(11):1818-1826. doi:10.2105/AJPH.2017.304032
20- Autismo e Realidade. 2019. Acesso: 06/08/2020 Fonte: https://autismoerealidade.org.br/2019/03/22/os-simbolos-do-autismo/
21- Autism Speaks 2019. Acesso: 08/08/2020 Fonte https://autismspeaks.org
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