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O que é Acupuntura?

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Atualizado: 1 de jun. de 2022


A acupuntura é um método terapêutico que consiste na estimulação, por meio de agulhas, de pontos específicos da pele. O estímulo desses pontos tem como característica regular o fluxo energético que, de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, é responsável pela fisiologia do organismo. É um ramo da medicina criado na China, que juntamente a outras técnicas, para auxiliar no tratamento de algumas doenças. Na China, ela é uma das partes mais reconhecidas mundialmente da cultura do país e em 2010 foi consagrada como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). (UNESCO 2010)

Porém, porque a acupuntura é um estudo que envolve crenças do Taoísmo com medicina, ela é considerada uma pseudociência. Por esse motivo ela tem um papel mais complementar no mundo da medicina, sendo a terapia primária em apenas ocasiões raras (Ronan et al,. 1987).


História

A acupuntura é praticada como terapia desde a idade da pedra na China (~ 3000 anos a.c) e era feita com agulhas de pedra junto do uso de pedras quentes e vapor principalmente para dores no abdômen e nas articulações (Wen et al,. 2011).

Na mesma época, com o estudo da acupuntura foram delimitados os meridianos do corpo ou acupontos (Figura 1), ou canais de energia ou de fluxo de energia. A medicina chinesa está intrinsecamente ligada com o fluxo metafísico de energia pelo corpo, unindo os métodos medicinais com as crenças chinesas (Wen et al., 2011). 

Figura 1: Meridianos do corpo. Fonte: E-MTC. https://estudandomtc.com/meridianos-extraordinarios-metodos-de-aplicacao/ Acesso 03/02/2021

No século IV a.C. a acupuntura começou a chegar em outras regiões da Ásia, como o Japão, onde a prática da acupuntura foi explorada de modos diferentes, principalmente na cura de dores musculares para pessoas mais ricas e guerreiros depois de batalhas (Wen et al,. 2011).

No século II a.C. começou uma revolução da acupuntura na China que só terminou no século III e diversos novos tratamentos foram descobertos depois que as dinastias Chin, Han e Huei investiram muito capital nesse estudo. Nessa revolução, a acupuntura começou a ser usada no tratamento de mais de 200 doenças, incluindo malária, e o uso de ervas medicinais (no incenso e as suas essências) começou a ser utilizado junto com a prática acupunturista (Wen et al,. 2011).

Nos séculos seguintes não houve nenhuma outra grande revolução no estudo acupunturista, mesmo assim ainda houve muitas descobertas nesse campo. Até o final do século XIX a acupuntura era uma prática regular, acessível para a maior parte da população e era usada no tratamento de qualquer doença. Porém, ironicamente a mesma Dinastia Chin que no século II a.C. -que mais incentivou a revolução da acupuntura no começo século XX- baniu a prática na China. Mesmo com esse decreto, ela ainda era praticada de forma clandestina e depois que a Dinastia Chin foi substituída a acupuntura voltou a ser praticada (Wen et al,. 2011).

Durante a República Chinesa (de 1912 até 1949), os estudos não se desenvolveram, mas a prática continuou sem nenhuma restrição formal, continuando como uma tradição antiga que não foi totalmente encerrada. Na época da República Chinesa o estudo já tinha se difundido pelo mundo apesar de não ser considerado uma ciência exata (Wen et al,. 2011).

Apesar da acupuntura ter chegado ao ocidente no século XV, o maior marco para a acupuntura no ocidente foi na França, entre 1939 e 1941 quando foi publicado o livro acadêmico sobre acupuntura mais influente na Europa “L’acuponcture chinoise” (A acupuntura chinesa) (Ronan et al,. 1987).

Atualmente, a acupuntura é considerada uma parte chave do sistema de saúde chinês, sendo praticada em quase todas as regiões da China, além de quase todos os países da Ásia. No ocidente ela não é tão reconhecida, principalmente pela diferença cultural e religiosa, mas ainda é muito utilizada na fisioterapia ou na psicologia.

Métodos da acupuntura

A medicina tradicional chinesa é baseada no conceito de que existe um fluxo de energia (Qi) pelo corpo que é composto de dois tipos de energia, a Energia Correta (Zheng Qi) e a Energia Perversa (Xie Qi), mas normalmente essas energias fluem em equilíbrio, mas quando o fluxo delas está desequilibrado o corpo é mais sensível a doenças. As práticas da medicina tradicional chinesa são usadas para acessar e manipular o fluxo de Qi, onde são necessárias técnicas e ferramentas específicas por meio da inserção de agulhas nos meridianos do corpo (Scognamillo-Szabó et al,. 2010).

Os meridianos e acupontos são regiões da pele que possuem baixa resistência, que a agulha consegue ter acesso a uma grande concentração de terminações nervosas sensoriais, que estão relacionadas intimamente com vasos sanguíneos, nervos, tendões e cápsulas articulares. Os acupontos estão localizados nos trajetos dos canais que transportam a energia pelo corpo humano. A agulha de acupuntura com seu potencial elétrico na ponta, quando é inserida no ponto de acupuntura, altera a polaridade dos canais de energia principais, iniciando uma estimulação desses canais o que contribui para uma melhor condução de Qi (Yamamura et al,. 2001).

A estimulação dos acupontos possibilita acesso direto ao Sistema Nervoso Central (Scognamillo-Szabó et al,. 2001). Estudos mostram que os receptores mais comuns dos acupontos são as terminações nervosas livres, fibras nervosas e células do sistema imune, os quais podem ser os componentes essenciais para que ocorra a deflagração das sensações e dos efeitos terapêuticos da acupuntura (SCHOEN,. 2006).

Desse modo, a acupuntura é justificada fisiologicamente, juntamente a crença da filosofia do Qi, ela também tem uma conexão com a medicina que é mais reconhecida cientificamente. Estudos morfofuncionais identificaram plexos nervosos, elementos vasculares e feixes musculares como sendo os mais prováveis sítios receptores dos acupontos (Scognamillo-Szabó et al,. 2001).

Os efeitos desencadeados pelo tratamento com a acupuntura envolvem um mecanismo complexo. A anatomia dos acupontos (diferente de outros pontos do corpo) são essenciais no desencadeamento dos estímulos elétricos pelo organismo causados pela Acupuntura. O estímulo pela agulha de acupuntura gera efeitos locais e em nível do sistema nervoso central. Na reação local ocorre a liberação de diversas substâncias levando a um efeito anti-inflamatório e a uma analgesia local. O sistema nervoso central está envolvido na transmissão do estímulo nervoso criado pela agulha de acupuntura e na ativação do controle da dor, liberando substâncias opióides como beta-endorfina, encefalina e serotonina (Scognamillo-Szabó et al,. 2001).

Os efeitos da acupuntura vão além do alívio de dores e inflamação. Para o tratamento da depressão, a estimulação desses locais pela inserção da agulha, via mecanismo bioquímico e nervoso aumenta a secreção de neurotransmissores a exemplo das endorfinas e da serotonina, da noradrenalina e da dopamina. Desse modo a acupuntura se configura como um meio fisiológico de se estimular a liberação dessas substâncias sem os efeitos colaterais atribuídos aos antidepressivos, tais como sonolência, diminuição da atenção, etc (Yamamura et al,. 2001).

As agulhas devem ser inseridas de acordo com algumas regras, incluindo o ângulo em relação a pele, a direção em relação ao fluxo e o tempo de introdução, para estimular e manipular os meridianos da forma correta. As agulhas normalmente são aplicadas por um mandril (Figura 2), que é um tubo que facilita a aplicação das agulhas do jeito apropriado. É importante também que todos os utensílios, incluindo as agulhas e o mandril, sejam descartáveis e que eles nunca sejam reutilizados, entortados ou quebrados (CRFSP 2019).

Figura 2: Foto ilustrativa de como pode ser aplicado uma das agulhas. Fonte: Cura Acupuntura. http://www.curaacupuntura.com.br/site/servicos/#.YCQrCuhKhPY Acesso: 09/02/2021

A acupuntura no Brasil


Figura 3: História da acupuntura no Brasil.

No Brasil, a partir de 2006 a regulamentação da medicina tradicional chinesa incluiu algumas práticas no Sistema Único de Saúde (SUS), e a acupuntura está disponível pelo SUS em 107 municípios por 19 estados do país. Para ter acesso a esse serviço é necessário ter uma requisição médica citando que o paciente apresenta dor ou estresse, marcar uma sessão e comparecer ao consultório, do mesmo modo que funciona com a maioria dos especialistas cobertos pelo SUS (Ministério da Saúde et al,. 2006).


Aplicações da Acupuntura


Os possíveis usos (Figura 4) para acupuntura mudam muito dependendo da área de trabalho; hoje em dia ela é usada majoritariamente na Terapia Ocupacional, na Medicina, na Odontologia, na Psicologia e na Veterinária (Souza et al,. 2011).

  1. Terapia Ocupacional: A acupuntura tem potencial de auxiliar em tratamentos fisioterápicos, diminuir a dor do paciente e relaxar músculos antes, durante e após o tratamento. (Barros et al,. 2006)

  2. Medicina: melhorar o fluxo sanguíneo, estimular o sistema imunológico, aliviar a dor, auxiliar na expulsão de fluidos corporais (como fezes, urina e mucosa). (CRFSP 2019)

  3. Odontologia: efeitos anti-inflamatório e analgésico na prática de odontologia cirúrgica, a acupuntura pode ser usada antes, durante e depois do procedimento (dos Santos Vianna et al,. 2008).

  4. Psicologia: ajudar em várias linhas de tratamento, ansiedade, depressão, mania, compulsão, estresse, problemas de raiva, problemas com concentração e até fobias (Conselho Federal de Psicologia 2013).

  5. Medicina Veterinária: melhorar o fluxo sanguíneo do animal, estimular o sistema imunológico, aliviar a dor, auxiliar na expulsão de fluidos corporais (como fezes, urina e mucosa), na recuperação fisioterápica e no relaxamento (Pantano et al,. 2011).

Figura 4: Possíveis usos para a acupuntura.


Apesar da acupuntura ter diversas possíveis aplicações para diferentes áreas, no SUS as áreas que mais recebem cobertura são Fisioterapia e Psicologia. Principalmente para tratamentos para dores musculares e recuperação de pacientes que sofreram acidentes ou para pacientes que têm algum distúrbio relacionado a estresse, respectivamente (Ministério da Saúde et al,. 2006).


Contra- indicações para o uso de acupuntura:

  1. Pessoas em jejum.

  2. Pessoas grávidas.

  3. Aplicação de agulhas em áreas com tumores.

  4. Aplicação de agulhas em áreas do corpo como: mamilos, umbigo, globo ocular e genitália externa.

-Felipe Heck, Graduando em Farmácia


Referências

-Ministério da Saúde. (2006) Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Brasília, Distrito Federal 1° Volume.

-Ministério da Saúde. (2015). Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Brasília, Distrito Federal 2° Volume.

-Rocha, F. D. (2003). Hospício de São Paulo Fragmentos de Psychiatria. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 6(3), 164-179.

-Wen, T. S. (2011). Acupuntura clássica chinesa. Editora Cultrix.

-Barros, N. F. D. (2006). Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: uma ação de inclusão. Ciência & Saúde Coletiva, 11, 850-850.

-Ronan, Colin A. (1987) História Ilustrada da Ciência da Universidade de Cambridge. (4vol.) vol 2 – Oriente, Roma Idade Média. RJ, Zahar Ed,

-Souza, E. F. A. A. D., & Luz, M. T. (2011). Análise crítica das diretrizes de pesquisa em medicina chinesa. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 18(1), 155-174.

-Palmeira, G. (1990). A acupuntura no ocidente. Cadernos de saúde pública, 6, 117-128.

-Scognamillo-Szabó, M. V. R., & Bechara, G. H. (2010). Acupuntura: histórico, bases teóricas e sua aplicação em Medicina Veterinária. Ciência Rural, 40(2), 461-470.

-Rizzo, S. S. M. V., & Henrique, B. G. (2001). Acupuntura: bases científicas e aplicações. Ciência Rural.

-Pantano, M. (2011). Bases Científicas da Acupuntura.

-Silva, P. H. P. S. E. (2011). REVISÃO DE LITERATURA: PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ACUPUNTURA VETERINÁRIA.

-UNESCO. (2010). Acupuncture and moxibustion of traditional Chinese medicine.

-dos Santos Vianna, R., de Souza, A. G., da Silva, B. C., Berlinck, T. Á., & Dias, K. R. H. C. (2008). A Acupuntura e sua aplicação na Odontologia. Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde/Brazilian Journal of Health Research.

-CRFSP, Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. (2019). Acupuntura

Medicina Tradicional Chinesa. 2ª edição.

-Yamamura, Y. (2001). Acupuntura tradicional: A arte de inserir. 2. ed. São Paulo:

Roca, 2001. 919p.

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