A acne é caracterizada pela inflamação ou infecção das glândulas sebáceas da pele e pode ser desencadeada por diversos fatores, tais como alterações nos hormônios sexuais e nos hábitos alimentares. Por exemplo, dietas hiperglicêmicas e com maior consumo de laticínios (ou, mais especificamente, da proteína do soro do leite: whey protein), gorduras trans e saturadas contribuem para o aparecimento de lesões acneicas, mas dietas ricas em ômega 3 e ômega 6 (provenientes de peixes, castanhas e óleos vegetais) são benéficas no tratamento da acne.1–3
Essa doença de pele apresenta maior incidência na faixa etária entre 14 a 19 anos, demonstrando a extensão dos impactos emocionais e até mesmo sociais causados, principalmente em relação à autoestima do paciente. Além disso, dependendo do grau da acne, esta também provoca dor e desconforto e pode ser identificada nas regiões da face, pescoço, tórax, ombros e dorso por algumas características como oleosidade excessiva, lesões inflamatórias ou não, bem como cicatrizes e hiperpigmentação cutânea.4
Em consulta com um dermatologista, este é capaz de examinar as lesões acneicas do paciente e classificá-las de acordo com diferentes aspectos.1
Um tipo de classificação é dos graus I a V, a saber: o grau I apresenta lesões não inflamatórias; o grau II apresenta poucas e pequenas lesões inflamatórias, que atingem uma maior área da pele no grau III; no grau IV, são observados múltiplos nódulos inflamatórios e, por fim, o grau V pode ser acompanhado de febre, leucocitose (alto nível de glóbulos brancos no sangue) e artralgia (dor nas articulações).1
Já os graus leve, moderado e grave caracterizam-se pelo número de lesões acneicas: até 30 (destas, no máximo 5 inflamatórias), até 125 (destas, de 15 a 50 inflamatórias) e acima de 125 (destas, mais de 50 inflamatórias), respectivamente.1
Além dessa classificação, os tipos de pele, as características genéticas, o histórico endócrino e o estilo de vida do paciente (considerando alimentação, tabagismo e alcoolismo) são cruciais para a indicação de um tratamento adequado para a acne.1,4
Em casos brandos, geralmente são receitados produtos de uso tópico, tais como pomadas e cremes, cuja vantagem consiste no aumento da exposição das glândulas sebáceas ao tratamento, apesar do risco de irritação cutânea.1,4
Casos mais graves comumente requerem medicamentos de ação sistêmica, associando o uso oral ao tópico. Esses tratamentos visam controlar a produção de sebo, inibir a proliferação bacteriana e reduzir a inflamação e podem ser associados a procedimentos estéticos como limpeza de pele e terapia fotodinâmica realizados por profissionais qualificados, com o intuito de prevenir o aparecimento de lesões e amenizar suas cicatrizes.1,4
Os medicamentos tópicos mais comuns são os retinoides, o ácido salicílico e o peróxido de benzoíla. Os retinoides (ex:. adapaleno, tretinoína) atuam como anti-inflamatórios;
o ácido salicílico é antimicrobiano e sua propriedade queratolítica (esfoliante) remove as células mortas da pele, renovando a superfície desta; o peróxido de benzoíla tem ação comedolítica (promove a ruptura dos cravos) e frequentemente é encontrado em associação a antibióticos.1–4
Os medicamentos de uso oral mais utilizados no tratamento da acne são, além dos antibióticos do grupo das tetraciclinas (ex:. doxiciclina, minociclina), a isotretinoína, os anticoncepcionais e os antiandrogênicos.
Os anticoncepcionais são adequados em casos de “acne hormonal”, pois controlam os hormônios, diminuindo a oleosidade da pele. De maneira similar, os antiandrogênicos inibem a produção dos hormônios andrógenos, reduzindo então a produção de sebo induzida por esses.1–4
Vale destacar a isotretinoína, receitada nos casos de acne severa e/ou resistente aos demais tratamentos. Apesar de ser considerada o tratamento mais eficaz devido à ação antiqueratinizante, que atrofia as glândulas sebáceas e gera um efeito anti-inflamatório, também pode manifestar diversos efeitos adversos, tais como eritema (vermelhidão), pele seca e sensibilidade ao sol.
Contudo, esses efeitos podem ser amenizados com o uso de hidratante e filtro solar. Ademais, durante esse tratamento, recomenda-se que não sejam aplicadas medicações comedolíticas tópicas, pois há maior chance de irritação devido à sensibilidade da pele.1,2,4
Portanto, dada a ampla variedade de tratamentos para a acne, justifica-se a importância de consultar um dermatologista para que sejam apresentadas as recomendações de uso dos medicamentos, bem como suas contraindicações e os cuidados durante o tratamento, que incluem tanto uma boa higiene e hidratação quanto uma alimentação balanceada, reduzindo então o risco de reincidência após o final do tratamento.1,2,4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, A. Z. de; TORQUETTI, C. B.; NASCIMENTO, L. P. R. do. O tratamento da acne associado à limpeza de pele. Revista Brasileira Interdisciplinar de Saúde, v. 2, n. 3, p. 60–66, 2020. Disponível em: <https://revistarebis.rebis.com.br/index.php/rebis/article/view/110>. Acesso em: 10 jan. 2023.
BALDWIN, H.; TAN, J. Effects of Diet on Acne and Its Response to Treatment. American Journal of Clinical Dermatology, v. 22, p. 55–65, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1007/s40257-020-00542-y>. Acesso em: 10 jan. 2023.
CONG, T.-X.; HAO, D.; WEN, X. et al. From pathogenesis of acne vulgaris to anti-acne agents. Archives of Dermatological Research, v. 311, p. 337–349, 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1007/s00403-019-01908-x>. Acesso em: 10 jan. 2023.
BARROS, A.-B. de; SARRUF, F. D.; FILETO, M. B.; VELASCO, M.-V. R. Acne vulgar: aspectos gerais e atualizações no protocolo de tratamento. BWS Journal, [S. l.], v. 3, p. 1–13, 2020. Disponível em: <https://bwsjournal.emnuvens.com.br/bwsj/article/view/125>. Acesso em: 10 jan. 2023.
ESCRITO POR: Jennifer Asher Barbosa de Carvalho (aluna de graduação em Farmácia - UFRJ)
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